Descrição de chapéu Folha Verão

Após deslizamentos, estradas de SP iniciam verão com obras pendentes

Encostas expostas e intervenções inacabadas atingem as rotas para o litoral Tamoios e Mogi-Bertioga

Deslizamento interdita há 4 anos trecho da rodovia dos Tamoios; estrada ainda tem encostas expostas de últimos desmoronamentos

Deslizamento interdita há 4 anos trecho da rodovia dos Tamoios; estrada ainda tem encostas expostas de últimos desmoronamentos Danilo Verpa/Folhapress

Fabrício Lobel
São Paulo

Em outubro, uma sequência de mais de 20 deslizamentos forçou o fechamento completo da rodovia dos Tamoios por mais de 30 horas. Em maio, a rodovia Mogi-Bertioga foi liberada após 21 dias de interdição. Em abril, foi a vez da Anchieta ser bloqueada por queda de barreiras.

Esses são alguns dos 94 deslizamentos nas estradas paulistas em 2018. Diante desse histórico recente, elas chegam ao verão —temporada de chuvas e de viagens de férias— ​​ com uma série de obras de segurança pendentes e com suas encostas recentemente desmoronadas expostas.

Os casos mais graves estão na Mogi-Bertioga, em que o Ministério Público investiga a falta de segurança da via, e na Tamoios, onde um geólogo ouvido pela Folha afirma que locais de deslizamentos anteriores ainda têm alto risco de novos incidentes. Não há interdições ou obras previstas na rodovia Anchieta. ​Neste feriado de Natal, só as estradas paulistas concedidas devem receber 2 milhões de veículos.

Na rodovia Mogi-Bertioga, que liga a Grande SP ao litoral, deslizamentos interromperam o fluxo de veículos pelo menos quatro vezes neste ano.

O alto número de interrupções fez com que o Ministério Público abrisse uma investigação sobre a segurança da via. 

À Promotoria o DER (Departamento de Estradas de Rodagem) disse que contrataria estudo para um plano de atuação geológica na Serra do Mar. Um relatório técnico da Promotoria recomendou a instalação de estações meteorológicas na via. O inquérito está em andamento.

O governo Márcio França (PSB) diz que os deslizamentos foram fruto do índice de chuvas muito acima do esperado e que há obras em curso, parte em fase final e parte prevista para janeiro. Afirma que contratou mapeamento de áreas de risco geológico e que as características da serra tornam seu terreno instável.

Em abril, no incidente mais grave da Mogi-Bertioga neste ano, uma pedra de 200 toneladas rolou do alto de uma montanha —levando com ela terra, outras pedras e árvores— ​​ obstruindo a rodovia.

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Sete meses depois, um muro de contenção de 7 metros foi construído entre a pista e a montanha. Um novo conjunto de canaletas capta a água do alto do morro, evitando maior erosão da solo exposto.

A obra faz parte de um pacote de intervenções, ao custo de R$ 13 milhões desembolsado pelo DER na estrada. 

Para o geólogo Álvaro dos Santos, é apenas uma intervenção provisória, que deve ser seguida por ações mais robustas. "Não é uma obra de estabilização da encosta", diz.

Outro ponto de atenção fica no km 83 da Mogi-Bertioga. Ali, uma pedra rolou para a pista em outubro. Uma empresa foi contratada para uma ação de contenção, mas as obras só começam na segunda semana de janeiro.

Na rodovia dos Tamoios, a descida para a praia também não é tranquila. Logo no km 52, antes mesmo da serra, a pista está interditada, no sentido litoral. O trânsito é direcionado para a pista de subida, forçando o afunilamento. A interdição já dura quase três anos anos. À Folha, a concessionária não explicou a demora para solucionar o problema.

O motorista encontra outro gargalo no km 65, no início do trecho de obras da Tamoios, que está em duplicação, onde a pista se torna simples.

Neste trecho estão os 23 pontos de deslizamento que interditaram a via em novembro. Na maior parte desses locais, as encostas estão expostas, sem intervenção que minimize o risco de incidentes. A concessionária não explicou se fará obras nesses locais.

Segundo o geólogo Álvaro dos Santos, a forte inclinação dessas encostas e a perspectiva das fortes chuvas sugerem alto risco de deslizamentos.

Já Marcelo Gramani, geólogo do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas de SP), afirma acreditar que os pontos onde já houve deslizamento não trazem mais riscos. Ainda assim, diz, é preciso criar mecanismos eficientes de monitoramento geológico, com detectores de movimento.

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Gramani e Santos explicam que a Serra do Mar é um dos pontos geologicamente mais instáveis do país. Grande parte das rodovias que cruzam a serra são anteriores à década de 70. Naquela época, o método para construir estradas em trechos assim era fazer cortes na montanha e "encaixar" a pista sobre estes cortes.

"Cada construção de rodovia nessas condições perturbou o ambiente já instável da serra, os efeitos podem até demorar, mas chegam. O avanço das estradas foi criando bombas-relógio que estão explodindo até hoje", diz Santos.

Uma mudança significativa veio com a rodovia dos Imigrantes, em 1976. Nela apostou-se na construção de pontes, viadutos e longos túneis, diminuindo o efeito de deslizamentos sobre a pista.

Santos e Gramani apontam que as obras de duplicação da Régis Bittencourt e da Tamoios, que criaram novas pistas, seguem o modelo da Imigrantes, o que é um avanço. Outra medida recomendada são as estações meteorológicas que podem apontar até para interdição preventiva da estrada.

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