Diplomação de eleitos em SP é marcada por vaia, empurra-empurra e 'Lula livre'

Alexandre Frota (PSL) se envolveu em confusão com membro de bancada do PSOL

Artur Rodrigues
São Paulo

A cerimônia do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) para diplomação dos candidatos eleitos por São Paulo nesta terça-feira (18)  foi interrompida por uma confusão envolvendo militantes e deputados eleitos. Marcada pela polarização, a cerimônia teve empurra-empurra, polícia no palco e guerra de vaias entre partidos de esquerda e bolsonaristas.

O militante do PSOL Jesus dos Santos —membro da bancada ativista, mandato coletivo da legenda para deputado estadual —subiu no palco junto com Mônica Seixas, a deputada oficialmente eleita do partido, e acabou impedido. Houve confusão generalizada, incluindo empurrões do deputado federal eleito pelo partido do futuro presidente Jair Bolsonaro (PSL), Alexandre Frota, em Santos. 

A Polícia Militar subiu ao palco para retirar Santos —ele permaneceu, porém, dentro do auditório. A cerimônia ficou interrompida por cerca de 20 minutos, os deputados acabaram voltando a seus lugares e a cerimônia seguiu.  

O militante afirmou ter sido vítima de racismo, ao ser barrado. "Diversos assessores brancos tiveram acesso ao palco e quando eu entrei no palco o que aconteceu foi o seguinte: uma série de insultos, violência e intimidação", disse. 

Ele afirmou que todos os membros do mandato coletivo estavam posicionados para entrar. "Durante todo o tempo, o TRE e o cerimonial foi avisado de que a bancada ativista estaria junta na diplomação. Então, quando a Mônica foi anunciada, a gente já tinha um entendimento de que acompanharíamos ela até a diplomação", disse. "Quando entrei, só vi o segurança depois correndo atrás de mim, falando sai, sai, sai, e aí começou os insultos de 'seu preto'". 

De acordo com ele, o deputado eleito Alexandre Frota o insultou e empurrou. "O Alexandre Frota veio por de trás de mim, ficou falando vários insultos, me empurrando por trás. Falava que não era para eu estar lá, que eu era bandido". 

Jesus dos Santos, da bancada ativista, é retirado do palco da Sala São Paulo após confusão em cerimônia de diplomação
Jesus dos Santos, da bancada ativista, é retirado do palco da Sala São Paulo após confusão em cerimônia de diplomação - Zanone Fraissat/Folhapress

Ao fim do evento, exaltado, Frota atacou Santos em entrevista. "Num dia especial desse especial, onde as pessoas estão sendo diplomadas, não dá para ter ato desse como bandido pular no palco e criar esse tipo de situação", disse. "Ele ainda deu sorte de eu não ter jogado ele lá na plateia". 

O deputado eleito afirmou que "eles já vieram preparado para isso". "Isso aqui é uma festa para aqueles que foram eleitos, e não para bandido, militante de esquerda ficar fazendo e usando da nossa festa para promover os movimentos deles". 

O clima polarização começou quando deputados estaduais do PT fizeram manifestação pedindo liberdade para o ex-presidente Lula, ao simular a letra L com a mão. Apoiadores de Bolsonaro responderam gritando "mito", "Lula na cadeia", enquanto simpatizantes do petista pediam "Lula livre" e "ditadura nunca mais".

Entre os eleitos presentes, estava o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do futuro presidente, que criticou a oposição. "Isso demonstra a imaturidade, todo mundo sabe do protocolo. Então, na verdade é apenas lamentável, do que depender do nosso público não haveria isso", disse. "Se a oposição estiver disposta a fazer sempre dessa maneira, vai ter que usar a segurança todo o tempo, fazer um pente mais rigoroso". 

Bolsonaro também afirmou que vai aguardar investigações sobre ex-assessor de seu irmão, Flávio Bolsonaro --o antigo funcionário teve movimentação atípica na conta captada pelo Coaf. 

 O desembargador Carlos Eduardo Cauduro Padin, presidente do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, afirmou que os militantes do PSOL forçaram uma situação desnecessária e que foi combinado que a bancada ativista não poderia subir coletivamente no palco.

"Só tem um candidato, só tem um eleito",disse. "[Desrespeitaram] aquilo que havia sido combinado, havia sido falado, estava tudo esclarecido. Foi um comportamento violento, que talvez surpreendeu as pessoas do cerimonial". 

Ele foi menos enfático em relação a Frota. "Todo restabelecimento da ordem exige energia, é uma coisa muito óbvia", disse, inicialmente. Depois, ao ser questionado novamente sobre a postura de Frota, acrescentou: "Os deputados também deveriam obedecer à ordem".  

A cerimônia ocorreu na Sala São Paulo, no centro da capital paulista, para diplomação do governador João Doria (PSDB), o vice-governador Rodrigo Garcia (DEM), dois senadores, 70 deputados federais e 94 estaduais eleitos por São Paulo.

O tucano saiu do local sem falar com a imprensa. Sua assessoria enviou áudio de Doria elogiando a democracia. "Isto é democracia, democracia pelo voto. O voto manda no Brasil". 

O tucano assumirá o cargo em 1º de janeiro, em substituição a Márcio França (PSB), que não conseguiu se reeleger. 

 

 
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