Os primeiros salários de Val tinham destino certo: comprar uma moto. Única mulher entre seis irmãos, era ela a fã de pilotar. Era também quem promovia as corridas de motocross em São Bento do Una, no interior pernambucano —a forte seca dos últimos anos impediu que a competição continuasse na cidade.
Por lá, era fácil ver Valdenice Mendonça de salto e moto indo até o Tribunal de Justiça, onde trabalhava como servidora pública. Ou na estrada, viajando mais de 2.000 km em três dias até a capital paulista —ela não perdia uma feira de duas rodas. Nem mesmo a morte de um filho em um acidente de moto, há oito anos, tirou dela a paixão pela velocidade.
Quando o marido de Val, bancário, diminuiu o ritmo de trabalho, eles começaram a vender peças para motos na mala de um carro. Em pouco tempo, tinham uma loja na cidade: a Val Motos. O negócio logo se espalhou por Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Sergipe.
Também atleta desde nova, Val ia jogar vôlei antes das 5h. Andava de bicicleta todos os dias —em uma semana chegava a pedalar 500 km. Ainda corria, fazia pilates e musculação. Era a grande incentivadora do esporte no agreste.
Há dois meses, aposentou-se do fórum. Com mais tempo livre este ano, fez várias viagens: Argentina, Uruguai, Portugal, Espanha, México e Chile. Agora queria aproveitar mais da sua nova paixão: jet ski. Tinha acabado de comprar e usou só uma vez, na praia dos Carneiros, onde a família passa os feriados.
Também queria curtir o neto de dois anos e aguardava ansiosa a chegada do segundo —a filha está grávida de quatro meses.
Mas, enquanto pedalava, a empresária foi vítima de um atropelamento e morreu aos 54 anos, no dia 5 de dezembro. Deixou o marido, Francisco José, dois filhos, dois netos, quatro irmãos e um enorme cortejo de motos, carros e bicicletas por São Bento do Una.
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