O jovem Laerte Júnior só dormia ouvindo rádio. Os pais, representantes comerciais, não sabiam de onde vinha a paixão do menino pelo que ouvia no aparelho.
Antes mesmo de completar o ensino médio, Laerte entrou para o curso de radialismo na Universidade Federal de Goiás. Formado, quis logo montar uma rádio pirata, a Alvorada do Norte. Fez o maior sucesso na única frequência da cidade, até ser denunciado e a polícia confiscar o transmissor, comprado a duras penas.
Durante 30 anos, Laerte bateu ponto na Rádio Difusora e, mais recentemente, atuava na Rádio Terra FM. Passou também pelas rádios Anhanguera, Mix FM, além do Jornal Argumento e das TVs Goyá e Serra Dourada.
Mas seu negócio era mesmo o rádio. Os programas de Laerte iam da notícia ao entretenimento e às crônicas. O radialista não tinha papas na língua quando o assunto era política e corrupção. Xingava, questionava, não tinha medo de dar opinião.
A má qualidade do transporte público em Goiânia era outro tópico que tirava o jornalista do sério. "Mas até os manda-chuvas que ele criticava respeitavam ele", conta a mulher, Carla.
Ateu trabalhando numa emissora cristã, Laerte não se furtava de escrever crônicas sobre Deus e religião. Também era figurinha carimbada na época das eleições em que atuava também em campanhas políticas. Seu único vício, diz a mulher, era o trabalho, que ele não recusava.
Em casa, no entanto, o expressivo radialista dava vez a um homem fechado, de poucas palavras, até carrancudo. Bem, pelo menos até pintar algum debate polêmico. Laerte já havia escrito 35 páginas da sua autobiografia —agora, a família pretende publicar a história até onde ela chegou.
Um infarto impediu Laerte de terminar o texto. Ele morreu em 10 de dezembro, aos 52 anos. Deixou a esposa, Carla Cristina Leão Vasques, dois filhos e dois enteados.
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