Novatos, governadores eleitos querem corte de gastos e ajuste fiscal

MG e RS descartam privatizar ativos principais ao aderirem à recuperação fiscal da União

Carolina Linhares
São Paulo

Governadores eleitos defenderam corte de gastos e ajustes fiscais diante de uma plateia de empresários nesta quarta-feira (5). Rio Grande do Sul e Minas Gerais reafirmaram a disposição de aderir ao programa de recuperação fiscal do governo federal, mas descartam privatizar o Banrisul e a Cemig, respectivamente. 

Os governadores eleitos Eduardo Leite (PSDB-RS), Romeu Zema (Novo-MG), Renato Casagrande (PSB-ES) e Wilson Lima (PSC-AM) participaram de evento organizado pelo Movimento Brasil Competitivo, presidido pelo empresário Jorge Gerdau, num hotel em São Paulo.

Os governadores eleitos Romeu Zema (Novo-MG), Wilson Lima (PSC-AM), Renato Casagrande (PSB-ES) e Eduardo Leite (PSDB-RS)
Os governadores eleitos Romeu Zema (Novo-MG), Wilson Lima (PSC-AM), Renato Casagrande (PSB-ES) e Eduardo Leite (PSDB-RS) - Divulgação/Movimento Brasil Competitivo

Leite, que governará um estado em que os inativos representam 60% do gasto com pessoal, disse que a negociação da dívida com o governo federal começa do zero, mas descartou privatizar o banco público estatal como contrapartida.

"Essa discussão de privatização do Banrisul não será feita nos próximos quatro anos", disse o governador eleito do Rio Grande do Sul.  "Queremos encontrar alternativas que nos permitam manter o banco público e viabilizar a adesão ao regime."

Para Leite, o programa de recuperação fiscal é importante para cumprir a promessa de colocar os salários do funcionalismo em dia já no ano que vem. Ele disse, porém, que não gastará capital político tentando privatizar o Banrisul. 

"Outras medidas são prioritárias na Assembleia, como reestruturar plano de carreira, privatizar a companhia de gás, de energia e de mineração. Há uma série de outras medidas que vão demandar esforço, investimento do capital político, da articulação. O banco por si só não resolve o estado e ainda consome um grande capital político."

Leite ainda pregou reforma da máquina administrativa, desburocratização e investimento em infraestrutura por meio de concessões e privatizações. Também defendeu a reforma da Previdência em nível nacional. 

Zema, eleito em Minas e o primeiro governador do Novo, também defendeu corte de gastos e acabar com o "cabide de empregos". Sobre o programa de recuperação fiscal afirmou que o estado adotará as regras do governo federal.

O governador eleito já afirmou que a Cemig, empresa de energia de Minas, se vendida como está, valeria pouco e não resolveria o problema fiscal. Embora mantenha a privatização no horizonte, ele pretende valorizá-la e precisa convencer a Assembleia a mudar a Constituição estadual, que hoje veta a privatização da companhia. 

Leite, que já foi prefeito, mas governará pela primeira vez, lembrou os colegas também novatos, com exceção de Casagrande, que governou entre 2011 e 2014, da dificuldade de lidar com a fragmentação de poder entre o Executivo, a Assembleia, o Judiciário e o Ministério Público. 

"Mudanças estruturais passarão pela Assembleia e será preciso coordenação política", disse ao defender que a equipe governamental tenha perfil técnico e político.

Também convidado, Rodrigo Rollemberg (PSB), atual governador do DF e que perdeu para Ibaneis (MDB) na eleição, disse que os governadores novatos terão que "viver um processo de adaptação". 

Rollemberg afirmou que ao tomar medidas duras para ajustar a economia, teve que "enfrentar interesses incrustados na máquina pública há muito tempo" e, por isso, não foi reeleito. 

"Os governadores são obrigados a promover equilíbrio num ambiente de depressão econômica, têm que tomar medidas amargas, que têm impacto na população e que se reflete nas urnas."

EM EQUILÍBRIO, ESPÍRITO SANTO TAMBÉM QUER CORTES

Mesmo o Espírito Santo, que mantém equilíbrio fiscal, prevê corte de gastos. Casagrande pediu à Assembleia que não vote o Orçamento enviado pelo atual governador, Paulo Hartung (ex-MDB), que também participou do evento. 

"Estou apresentando um Orçamento novo a partir de janeiro para tirar qualquer expectativa de aumento de despesa com pessoal, custeio e transferência para os Poderes", disse.

Segundo Casagrande, a proposta de Hartung contemplava correção de salários, aumento de custeio e investimento de R$ 1,5 bilhão. "Temos que começar com o pé no chão. Não temos certeza se vamos poder ou não aumentar salários. Se puder ao longo do ano, a gente faz. Não posso começar o ano garantindo que vai ter."

Em seu discurso, Hartung afirmou que a eleição e o fato de Sergio Moro ter aceitado ser ministro deram a Jair Bolsonaro (PSL) um enorme capital político. "Mas não está clara a proposta que vai ser encaminhada ao Brasil", disse ao defender uma agenda reformista. 

Hartung fará parte do conselho consultivo do governo de Minas e também foi mencionado por Leite como um futuro conselheiro. 

Wilson, do Amazonas, defendeu a manutenção da Zona Franca de Manaus, e, contrariando Bolsonaro, disse que não é preciso diminuir terras indígenas, mas garantir desenvolvimento econômico e social aos índios, preservando o meio ambiente.

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