O problema é sério, alertou piloto da Latam antes de pouso de emergência; ouça

Aeronave a caminho de Londres interrompeu viagem e aterrissou no aeroporto de Confins

Fabrício Lobel
São Paulo

O piloto da aeronave Boeing 777 da Latam que fez um pouso de emergência em Confins (MG) na madrugada desta quinta-feira (20) disse à torre de comando ter um problema elétrico "um pouco sério". 

"Me providencie bombeiro, ok, amigão? Estamos com esse problema um pouco sério, ok?", disse o piloto aos controladores de voo, durante a aproximação para o pouso. A conversa consta em um áudio obtido pela Folha entre o comando aéreo brasileiro e a cabine da aeronave.

O Boeing havia saído do aeroporto de Guarulhos, à 0h30, com destino a Londres. Segundo relatos, minutos após a decolagem, um dos motores da aeronave começou a fazer um barulho estranho. Nisso, as telas de entretenimento a bordo se apagaram.

João Henrique Varella, co-piloto e diretor de segurança de voo do sindicato dos Aeronautas, explica que esse tipo de ocorrência é compatível com falhas elétricas do gerador de energia, quando a aeronave busca concentrar toda a carga de energia em funções que são vitais ao voo, desligando outras não essenciais, como as telas de entretenimento. 

"Mesmo numa falha elétrica parcial, menos grave, são desligados sistemas secundários como o de entretenimento ou o de aquecimento das galleys [onde são preparados os lanches dos passageiros]", disse.

Meia hora após a decolagem, já sobrevoando o estado de Minas Gerais, o avião começa a descer e a se encaminhar para Belo Horizonte. Em um dos primeiros contatos com a torre do aeroporto de Confins, um dos quatro pilotos a bordo questiona o tamanho da pista, e o controlador de voo indica que tem 3.000 metros homologados e mais 600 metros de escape. 

Após a informação, o piloto solicita o apoio de bombeiros na pista do aeroporto, e a aeronave começa a dar voltas tentando alijar combustível. O alijamento de combustível é uma medida preventiva adotada para minimizar riscos de incêndio após um pouso de emergência.

Piloto faz voltas tentando alijar combustível antes do pouso em Confins
Piloto faz voltas tentando alijar combustível antes do pouso em Confins - Reprodução

Ainda à torre de comando o piloto informa que a aeronave estava muito pesada e que não conseguia alijar a grande quantidade de combustível. O piloto então informa que nenhum sistema elétrico funcionava corretamente.

"Nós estamos muito pesados. O sistema de alijamento não está funcionando também. Nós estamos praticamente sem nenhum sistema elétrico funcionando corretamente. Então, nós estamos com esse problema um pouco sério, ok? Então, por gentileza, deixe preparado o bombeiro. Estamos efetuando o procedimento, tentando alijar o máximo possível o peso da aeronave. Mas está difícil", informou o piloto.

O problema num pouso desses é que, com muito peso, uma aeronave precisa de maior velocidade para pousar devidamente. O conjunto de peso e velocidade sobrecarregam os freios da aeronave, que podem ficar incandescentes e precisam ser resfriados pelos bombeiros, sob o risco de incêndio. Os pneus, inclusive têm um sistema de segurança que os faz murchar nessas situações, para evitar uma explosão.

Após o pouso, por volta da 1h40, a possibilidade de incêndio foi a preocupação da tripulação da aeronave. O piloto questiona à torre de controle se há presença de fogo. A torre informa que as chamas estavam sendo controladas pelos bombeiros. 

A partir daí, piloto e torre parecem se desentender sobre a gravidade do fogo e a necessidade de evacuação da aeronave.

O piloto informa à torre que, se os bombeiros estivessem conseguindo controlar as chamas, ele aguardaria a chegada de escadas para o desembarque dos passageiros. Caso contrário, ele iniciaria o procedimento de evacuação, que poderia trazer riscos de ferimentos aos passageiros. 

Varella, sindicato dos Aeronautas, analisa que houve um "telefone sem fio" nesta parte da operação, tomando segundos importantes de decisão. "Em voos nos Estados Unidos ou na Europa, em uma situação dessas, a equipe de bombeiros se comunica diretamente com o comandante, que é quem deve tomar a decisão por uma evacuação", explica.

Para ele, esse método poderia ser incorporado aos aeroportos brasileiros, dando mais tempo de decisão para o piloto. 

Após o resfriamento dos freios, o desembarque dos passageiros foi feito normalmente, na pista de Confins. 

Cancelamento e assistência

Segundo a Latam, todos os passageiros foram retirados em segurança e receberam a assistência necessária. "Em razão disso, 49 voos da companhia de/para Confins foram cancelados até às 23h59 desta quinta e 1 alterado. A Latam reforça aos passageiros que confirmem a situação de seus voos diretamente na página Status de Voos e não se dirigirem ao aeroporto", diz a companhia em nota.

No site do aeroporto, todas as partidas programadas para esta quinta-feira constam como canceladas ou não confirmadas.

Os passageiros que tiverem seus voos impactados pelo fechamento poderão alterar seus voos ou solicitar reembolso da passagem sem cobrança de taxa de remarcação e sem multas. Outro caminho, ainda segundo a Latam, é entrar em contato com o Call Center pelos telefones 4002-5700 (nas capitais) ou 0300-570-5700 (demais localidades do Brasil) antes de irem até o aeroporto de Confins.

Com aumento da demanda e a situação climática das chuvas de verão, esta costuma ser a época com mais reclamações contra companhias aéreas. 

A Folha conversou com especialistas da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e do Procon-SP sobre como evitar e amenizar problemas nos aeroportos nas viagens de férias e quais os direitos do consumidor em casos de atrasos e cancelamentos:

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