Substituição de cubanos em áreas indígenas ainda é exceção no Mais Médicos

Balanço mostra que mais da metade das vagas não preenchidas são para atuação em Dsei

Rodrigo Vargas
Cuiabá

Quando se candidatou às vagas abertas no programa Mais Médicos, o clínico-geral paranaense Eliberto Barbosa, 36, diz ter feito questão de buscar localidades menos cobiçadas por seus colegas.

"Esperei até a última hora para escolher um município que ninguém quis. E aqui estou", disse à reportagem, no dia em que pisava pela primeira vez na sede administrativa do DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) da cidade de Parintins (AM), localizada em uma ilha fluvial a 398 km de Manaus.

Com seis anos de experiência, e atuação em unidades de saúde em Curitiba e também na litorânea Matinhos, Barbosa disse que se interessou pela oportunidade de conhecer uma nova cultura.

"Eu não criei muita expectativa. Eu vim para conhecer e também para aprender com eles. Queria sair da comodidade da minha cidade, do meu hospital, para trabalhar em uma condição diferente. Oficialmente, é o meu primeiro trabalho com populações indígenas."

A disposição demonstrada por Barbosa não é a regra. De acordo com balanço divulgado no dia 10 pelo Ministério da Saúde, mais da metade das vagas não preenchidas no primeiro edital do programa são para atuação em Dsei, em especial os da região Norte.

Em Parintins, por exemplo, apenas nove médicos se inscreveram para as doze vagas abertas no primeiro edital. E destes, somente Barbosa e outros três colegas haviam se apresentado.

"No momento, estamos contando apenas com as equipes de enfermeiros e técnicos de saúde", relata Luiz Roberto Costa Filho, técnico em atenção à Saúde do distrito.

Nesta semana, a reportagem procurou representantes de outros quatro distritos (Xavante, Xingu, Potiguara e Guamá Tocantins) e ouviu relatos semelhantes. 

Juntas, as unidades são responsáveis pelo atendimento de 72 mil indígenas distribuídos por 45 municípios dos estados de Mato Grosso, Pará, Tocantins, Amazonas e Paraíba.

"Perdemos seis médicos e até o momento [quinta-feira, dia 13] ninguém veio substituí-los", relatou a técnica de Saúde, Creuza Lopes Faria. 

Localizado na região nordeste de Mato Grosso, o Dsei responde pelo atendimento aos 7.000 indígenas do Parque Indígena do Xingu.

"Temos equipes muito experientes de enfermeiros que estão em campo e, para qualquer situação emergencial, temos como fazer transferências com avião." 

Das nove vagas abertas nas áreas de atribuição do Dsei Guamá Tocantins, com sede em Belém (PA), quatro haviam preenchidas, afirmou o técnico em Saúde Jorge Alberto Tembé.

A preocupação, além da chegada de mais interessados, é com a adaptação daqueles que já se apresentaram. "O risco de desistência é alto. Mas a gente tem deixado claro para todos eles o tamanho do desafio que é trabalhar nesta região".

Situação bem distinta vive o Dsei Potiguara, com sede em João Pessoa (PB). Com áreas de atuação situadas a pouco mais de 100 km da capital, João Pessoa, o distrito teve suas três vagas rapidamente ocupadas.

"Não ficamos mais do que uma semana sem médicos por aqui. E como todos já moravam por aqui, não esperamos problemas de adaptação", disse o técnico em Saúde Josafá Padilha.

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