Força Nacional vai às ruas no CE após 3ª noite de ataques criminosos

Envio de reforço policial foi autorizado na sexta-feira pelo ministro Sergio Moro (Justiça)

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Fortaleza

Os ataques criminosos no Ceará, que acontecem desde quarta (2) com ações contra prédios públicos e privados, delegacias, agências bancárias e ônibus, continuaram pela terceira madrugada seguida neste sábado (5).

Os crimes ocorreram na mesma noite em que parte do efetivo da Força Nacional de Segurança começou a chegar a Fortaleza —o total de homens enviado pelo governo federal para ajudar no policiamento em todo o estado chega a 300, além de 30 viaturas. Parte desse efetivo já foi às ruas de Fortaleza e da região metropolitana para fazer patrulhamento na noite deste sábado —os ataques têm se concentrado à noite. 

Os agentes da Força Nacional ficarão concentrados no Centro de Formação Olímpico, equipamento com alojamentos do governo estadual ao lado da Arena Castelão. Na manhã deste sábado já era possível ver carros da Força Nacional circulando por vias de Fortaleza.

Neste sábado, a capital cearense amanheceu com lojas fechadas, principalmente no centro da cidade. Um dos principais pontos de comércio popular, o Centro Fashion, informou que não abriria as portas.

Pouco mais de cem ônibus, em apenas 41 linhas, circularam pela capital do Ceará, número que não chega a 30% da frota habitual aos finais de semana. Todos foram escoltados por viaturas ou tiveram policiais viajando junto. Aos menos 12 ônibus foram queimados na capital e no interior desde o início dos ataques, na noite de quarta-feira.

envio do reforço policial foi autorizado na sexta-feira pelo ministro da Justiça, Sergio Moro. A Força Nacional de Segurança Pública atuará por 30 dias no Ceará. Um dia antes, Moro já havia determinado providências, com a mobilização da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e do Departamento Penitenciário Nacional.​

A decisão se deu após pedidos feitos pelo governador Camilo Santana (PT). O ministro sugeriu a formação de um gabinete de crise, com a integração de polícias federais e estaduais. 

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) elogiou a decisão de Moro e disse que o fato de o PT comandar o estado, mesmo sendo oposição ao governo federal, não influenciaria a medida. “Jamais faremos oposição ao povo de qualquer estado e o povo do Ceará precisa neste momento”, afirmou. Moro “foi muito rápido, hábil e eficaz para atender o estado, cujo governador reeleito tem posição radical à nossa (sic).”

Ataques

Concentrados nos primeiros dias em Fortaleza e região metropolitana, os ataques agora também ocorreram no interior, desde a manhã de sexta-feira (4). Ao menos 21 cidades de todas as regiões, incluindo a capital, registraram ocorrências ligadas a membros de facções criminosas desde quarta (2).

Até o momento, só houve registro de três pessoas feridas, um casal de idosos e um motorista de um ônibus, ainda no primeiro dia dos ataques. Um suspeito foi morto em troca de tiros com a polícia quando tentava, com outras pessoas, danificar um radar de trânsito na cidade de Eusébio, na Grande Fortaleza. 

A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará informou que até a tarde deste sábado 86 pessoas foram detidas ou apreendidas sob suspeita de envolvimentos nos ataques. Ao todo, 80 ações foram registradas até o momento, entre ônibus e carros incendiados, ataques a prédios públicos e privados, a radares e câmeras de trânsito e até há um viaduto na BR-020, que liga Fortaleza a Brasília.

Segundo o governo, neste sábado houve diminuição nas ocorrências.

Ônibus queimado no Jardim Castelão, em Fortaleza, na última quinta-feira (3)
Ônibus queimado no Jardim Castelão, em Fortaleza, na última quinta-feira (3) - Arquivo Pessoal

'Medidas fortes'

"Esse tem sido justamente o motivo desses atos criminosos: fazer com que o Estado recue dessas medidas fortes, o que não há nenhuma possibilidade de acontecer. Pelo contrário: endureceremos cada vez mais contra o crime", disse o governador Santana, por meio de uma rede social, na tarde deste sábado.

Há suspeita de que a ordem para os ataques realizados em todo o Ceará tenha partido de dentro de penitenciárias. Foram indiciados 52 detentos por desobediência, resistência e motim e outros 250 devem ser indiciados, segundo o secretário de Segurança do estado, André Costa. 

Os ataques ocorrem depois de o governador anunciar que uma das prioridades de seu segundo mandato será endurecer as regras em presídios, que hoje têm unidades divididas entre facções criminosas: as três mais fortes no estado são o PCC (Primeiro Comando da Capital) e GDE (Guardiões do Estado), que são aliados, e o CV (Comando Vermelho). 

Santana criou uma secretaria exclusiva para o assunto, a de Administração Penitenciária, e escalou para comandá-la o policial civil e ex-secretário de Justiça do RN, Luís Mauro Albuquerque,  que tem passagem também pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen). ​

Há possibilidade de revisão da divisão de detentos por presídios com base na facção à qual pertencem, o que pode ter desencadeado ordens para as ações realizadas por bandidos.

Na terça (1º), durante a posse dos secretários no Palácio da Abolição, Albuquerque disse que não reconhecia as facções criminosas e que os presídios têm que ser comandados pelo estado, não pelos criminosos —nos últimos meses vídeos de detentos com celulares nas unidades circularam pela internet. 
 

Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança, o Ceará foi, em 2017, o terceiro estado do país com mais mortes violentas. A taxa foi de 59,1 mortos a cada 100 mil habitantes. À frente do estado estiveram apenas Rio Grande do Norte (68) e Acre (63,9). 

Em 2018, segundo dados divulgados pelo estado, houve queda de 10,5% na taxa de homicídios entre janeiro e novembro de 2018, comparado com 2017.

Mesmo assim, no ano passado ocorreu a maior chacina da história do Ceará, com 14 mortos durante uma festa na periferia de Fortaleza, em janeiro, e a morte de seis reféns após ação policial para evitar assalto a dois bancos em Milagres, no interior, em dezembro. 

Pedido do Pará

Depois do Ceará, agora o Pará também pediu ao ministro da Justiça, Sergio Moro, ajuda da Força Nacional para conter a violência no estado. A solicitação, feita pelo governador Helder Barbalho (MDB), chegou à pasta e está em análise. 

"O Pará está mais violento que o Rio de Janeiro, proporcionalmente. O pedido feito foi por seis meses de Força Nacional no estado", disse o delegado Éder Mauro (PSD-PA), que foi ao Palácio do Planalto falar com o presidente Bolsonaro.

Não há prazo para decisão do ministro da Justiça sobre o pedido de Barbalho. De acordo com a assessoria da pasta, até agora, essas foram as únicas solicitações recebidas.

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