Metrô levou 61 minutos até autorizar busca de menino Luan em túnel da linha 1-azul

Criança de 3 anos morreu após ter se separado dos pais, saído de um vagão e caído nos trilhos

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São Paulo

O Metrô de São Paulo, ligado ao governo do estado, levou 61 minutos para autorizar as buscas ao menino Luan, 3, dentro do túnel da linha 1-azul, após ter sido informado que ele havia se perdido da família.

No dia 23 de dezembro, um domingo de manhã, Luan Silva Oliveira viajava com familiares no sentido Jabaquara. Na estação Santa Cruz, pouco antes de a porta se fechar, correu para fora do trem e acabou sozinho na plataforma.

Cancela no final da  plataforma da estação Santa Cruz do Metrô (linha 1-azul)  onde teria passado o garoto Luan de 3 anos. Ele foi encontrado morto dentro do túnel no dia 23 de dezembro de 2018
Cancela no final da plataforma da estação Santa Cruz do Metrô (linha 1-azul) onde teria passado o garoto Luan de 3 anos. Ele foi achado ferido dentro do túnel no dia 23 de dezembro de 2018 - Rubens Cavallari/Folhapress

Ele só foi encontrado tempos depois nos trilhos, ainda com vida, a 200 metros da plataforma, no túnel em direção à estação Praça da Árvore. A Polícia Civil ainda analisa imagens de câmeras de segurança e investiga como a criança foi parar nos trilhos.

Nesta quinta-feira (3), a Folha teve acesso a um relatório sobre o caso produzido pelo Metrô e apresentado em reuniões internas da companhia.

Segundo o documento, o Metrô foi informado sobre a perda do menino de seus familiares às 11h07, por meio de uma mensagem de SMS no serviço de atendimento ao usuário da companhia.

A autorização para procurá-lo no túnel da linha, porém, só ocorreu às 12h08, uma hora e 1 minuto após o aviso e 43 minutos após funcionários do Metrô terem pedido autorização superior para essa busca.

Ao longo de todo esse intervalo, sempre de acordo com o documento interno do Metrô, diferentes funcionários atuaram nas buscas. Um minuto após o SMS, por exemplo, é lançado um alerta de buscas.

Funcionários iniciam a procura pela plataforma e depois seguem para o mezanino da estação. A procura segue também em um shopping, e nas instalações da linha 5-lilás, que faz conexão com a 1-azul.

Às 11h20, ainda sem saber o paradeiro da criança, funcionários passam a considerar que Luan possa estar no túnel da linha. Cinco minutos depois, funcionários do Metrô solicitam aos seus superiores o início dessa busca específica. A autorização chega apenas às 12h08.

Às 12h22, Luan é avistado nos trilhos por um metroviário e às 12h46 equipes conseguem chegar ao local. O menino é levado de volta à plataforma e, às 12h58, é encaminhado ao Hospital São Paulo, onde morre em seguida.

Menino que morreu na estação Santa Cruz - Reprodução
Menino que morreu na estação Santa Cruz - Reprodução - Reprodução

Segundo a Polícia Civil, as imagens cedidas pelo Metrô sobre o dia da ocorrência mostram o desespero de passageiros e dos parentes do garoto no momento em que ele escapa e parte para fora do vagão.

Segundo o delegado-titular do Delpom (Delegacia de Polícia do Metropolitano), Cícero Simão da Costa, as imagens não serão divulgadas porque estão sob segredo de Justiça.

"Luan está no colo da mãe, que deixa cair uma bolsa. Ela o coloca em pé para apanhá-la e, nesse momento, o garoto anda rapidinho, passa pela porta, que logo se fecha", diz.

Ao chegar à Praça da Árvore, a família tomou o trem no sentido contrário até a estação Santa Cruz e procurou ajuda com funcionários do Metrô.

Naquele dia, o garoto estava acompanhado da mãe, a dona de casa Lineia Oliveira Silva, 25, do sogro dela, de uma irmã e do padrasto. Moradora do bairro dos Pimentas, em Guarulhos (Grande SP), a família pretendia passar o domingo na praia, em Santos (72 km de SP), e tomaria um ônibus no Jabaquara (zona sul).

Cronologia 

11h07 Metrô recebe alerta, via SMS, de que criança havia desembarcado sozinha na estação Santa Cruz
11h08 Metrô manda funcionários buscarem pela criança na plataforma
11h09 Agentes de segurança iniciam as buscas nas plataformas, mezanino, shopping e estação Santa Cruz da linha 5-lilás
11h20 Agentes cogitam a possibilidade da criança estar no túnel da estação
11h25   Funcionários pedem autorização superior para entrarem no túnel
12h08 O Centro de Operações do Metrô autoriza a entrada no túnel
12h22 Um metroviário informa ter visto um corpo nos trilhos
12h46 Após mais de uma tentativa, as equipes conseguem localizar a criança, deitada de lado, próximo a um vagão de trem da linha 1-azul
12h52 Início do resgate
12h56 Criança é levada à plataforma
12h58 A criança é levada ao Hospital São Paulo

O Metrô viu crescer 41% os episódios de invasão dos trilhos entre 2015 e 2017. São casos de vandalismo, imprudência, tentativas de suicídio, queda de usuários e de objetos.

Para reduzir as interferências provocadas por invasões aos trilhos e aumentar a segurança, a companhia retomou antiga promessa de instalação de portas automáticas nas plataformas das estações. Até fevereiro será anunciada a vencedora da licitação em andamento.

Deverão ser instaladas portas em 36 paradas que ainda não as possuem, nas linhas 1-azul, 2-verde e 3-vermelha. As obras irão custar R$ 400 milhões.

Atualmente, estações mais novas do metrô já dispõem das portas automáticas nas plataformas --também comuns em outros países. De um total de 70 paradas da rede, 20 têm esse dispositivo.

O objetivo, de acordo com a companhia, é aumentar a segurança dos usuários e melhorar a fluidez dos trens, que não sofrerão mais com algumas interrupções da operação. No ano passado, cada interrupção da via paralisou a operação da linha em quatro minutos, em média.

Segundo os metroviários a morte de Luan expõe a falta de funcionários na companhia, já que a categoria há tempos pleiteia a contratação de agentes que pudessem atuar nas plataformas, trabalhando inclusive pela segurança dos passageiros.

Metrô diz que busca exigiu cortar energia de 4 km de linhas

O Metrô de São Paulo afirma, em nota, que tomou todas as providências necessárias durante a busca ao menino Luan.

Ele não resistiu aos ferimentos após cair nos trilhos da linha 1-azul, a 200 metros da plataforma da estação Santa Cruz, em um túnel, em direção à Praça da Árvore.

Segundo a nota, a ocorrência exigiu desenergização de um trecho de mais de quatro quilômetros de vias, desde a estação Vila Mariana até Saúde –nos dois sentidos– para que os agentes de segurança pudessem entrar no túnel.

"Nessas situações, é necessário que todos os trens que estavam em circulação na linha 1-azul sejam acomodados em área de plataforma para garantir a segurança dos usuários embarcados", afirma a companhia.

Ainda de acordo com a nota, a empresa afirma que "lamenta o triste acidente com o menino Luan, ocorrido na estação Santa Cruz no dia 23 de dezembro". E afirma que "a companhia prestou todo o atendimento necessário à família neste momento difícil".

O Metrô diz analisar a ocorrência e colaborar com as investigações policiais sobre o caso, cedendo imagens e informações solicitadas pelas autoridades.

Colaborou Marina Estarque

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