Descrição de chapéu Obituário Alberta Girardi (1921 - 2018)

Mortes: A freira italiana que militou pela terra, pelos presos e pelos pobres

Irmã Alberta dá nome ao único assentamento do MST na cidade de São Paulo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Certa vez, irmã Alberta se viu em meio a um conflito entre a Polícia Militar e militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, em São Paulo. Os policiais queriam manter os camponeses em um cerco. A religiosa, de 1,50 metro de altura, não aceitou. Furou a barreira, pegou nas mãos que conseguiu e saiu dizendo: “Pode abrir caminho que todo mundo vem comigo." 

Assim era a freira, que nasceu Gina Girardi, em Quarto d’Altino, na província de Veneza, Itália, no período entre guerras. Enquanto Benito Mussolini ascendia ao poder, o pai dela, Alberto, se arriscava na militância contra o fascismo.

Em 1943, entrou para a Congregação das Pequenas Irmãs da Caridade. Quando se formou religiosa e recebeu o nome de Alberta, foi trabalhar em orfanatos no norte do país. Oito anos depois, em Roma, teve a ideia de preparar as jovens para trabalhar na produção de cinema, com os neorrealistas que começavam a surgir.

Como missionária, foi enviada em 1970 ao Brasil. Seu primeiro posto foi um teste de fogo. Viveu na cidade de Araguaína, no interior do Tocantins, trabalhando com a Pastoral da Terra e o padre Josimo Morais Tavares. Os dois sofreram ameaças por anos, até que em 1986, o padre foi assassinado. A organização resolveu então tirar irmã Alberta do local. 

Depois de um ano na Itália, ela viveu ainda na Ilha de Marajó, numa comunidade sem padre, onde ela fazia as vezes de vigária, realizando batizados e casamentos, até ser trazida a São Paulo. Aqui, trabalhou com pessoas em situação de rua e presos. Visitava regularmente o Carandiru e outros presídios pelo país. 

“Ela perguntava se os presos tinham casas, famílias. Tinha uma fé que a impulsionava o tempo todo, um compromisso com as pessoas”, diz padre Valdir, ex-coordenador da Pastoral Carcerária. 

Por sua dedicação, o MST resolveu batizar o único assentamento dentro da cidade de São Paulo com o nome dela. No dia 30 de dezembro, aos 97 anos, Alberta morreu em decorrência de uma pneumonia. Deixou uma irmã de sangue e várias de fé. Além da lição de defender a vida acima de tudo. 


coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missas​​


  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.