Descrição de chapéu Obituário Vanessa Canabarro Dios (1970 - 2018)

Mortes: Em diferentes frentes, atuou pela saúde das mulheres vítimas de violência

Com doçura e acolhimento, psicóloga trabalhou para melhor atendimento público

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São Paulo

Na primeira vez em que o câncer se manifestou em seu corpo, há 12 anos, Vanessa teve de lidar com comentários de que ela adoecia porque ouvia as dores mais horríveis dos outros. Como se, de alguma forma, absorvesse a negatividade.

Ela própria nunca fez essa narrativa. Os relatos de estupro e outras formas de violência com os quais lidava diariamente não eram encarados como um fardo, tampouco como um ato de heroísmo. “Ela simplesmente enxergava como algo que tinha que ser feito. Alguém tinha que cuidar dessas mulheres”, diz a amiga de infância Debora Diniz. ​

Desde que se envolveu em projeto de pesquisa na UnB (Universidade de Brasília) para trabalhar com mulheres, a psicóloga notou que as questões de saúde mental feminina estavam relacionadas a opressão de gênero.

Assim, enveredou pelo atendimento a mulheres vítimas de violência. Na Secretaria de Saúde do DF, ajudou a criar um centro de atendimento integral a adolescentes. Trabalhou também com menores infratoras na unidade socioeducativa do distrito e no serviço de aborto legal.

Profundamente maternal e acolhedora, tratava a todos com doçura. Sua leveza era inata. “Ela tinha um respeito muito grande pelas pessoas. Cativava, porque sabia ouvir”, conta o marido, Wilson, companheiro nos últimos 30 anos.

Com a experiência atendendo a mulheres na ponta da rede pública —​onde frequentemente a própria estrutura aprofunda os problemas da vítima—​ ​ Vanessa fez a transição para atuar de forma mais abrangente na área. Foi trabalhar por melhorias nas políticas públicas para mulheres por meio da Anis - Instituto de Bioética, ONG fundada pela amiga Debora.

Coordenou o trabalho da Anis durante a epidemia de zika no Brasil e teve papel fundamental na ação pela descriminalização do aborto no STF.

Mesmo debilitada com as idas e vindas da doença por 12 anos, Van fez questão de exercer seu direito de voto nas últimas eleições. Em uma cadeira de rodas, vestiu uma camiseta com a frase #EleNão e foi à urna no primeiro turno como derradeiro ato feminista de resistência.

Morreu no último 25 de novembro, aos 48, em decorrência do câncer. Deixa o marido Wilson, os filhos Gabriel e Sofia, os irmãos e os pais.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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