Descrição de chapéu Obituário anna veronica mautner (1935 - 2019)

Mortes: Mulher moderna, formou gerações de terapeutas

Cronista e psicanalista por 50 anos, migrou da Hungria para o Brasil aos três anos

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São Paulo

A psicanalista Anna Veronica Mautner, que formou gerações de terapeutas, e foi precursora da autonomia feminina, morreu aos 83 anos, na tarde de quarta (30), por falência de múltiplos órgãos. 

A psicanalista Anna Veronica Mautner, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em SP - Bruno Poletti/Folhapress

Anna Veronica nasceu na Hungria em 1935 e imigrou para o Brasil aos três anos. Sua mãe, Rosa, era uma comunista judia e feminista libertária na Budapeste dos anos 1930. A família chegou no dia em que a Segunda Guerra foi declarada, conta a amiga e psicoterapeuta Regina Favre.

Favre foi a organizadora do último livro de Mautner, "Fragmentos de uma Vida", lançado há dez meses pela editora Ágora. Segundo a organizadora, é uma reunião de textos, muitos publicados em jornais, que busca responder como Mautner se tornou a mulher moderna que era.

A família Mautner se estabeleceu na Lapa, onde abriu um salão de cabeleireiros. Ali, Anna dizia ter aprendido os primeiros passos na arte de ouvir. Seu pai era primo do pai de outro Mautner famoso, o músico Jorge Mautner.

Anna Veronica era a cronista perfeita, diz seu amigo Contardo Calligaris, colunista da Folha. "Tinha uma enorme relação com a vida e com a cidade e uma capacidade de enxergar coisas que a maioria não via."

Na juventude, fez parte de movimento sionista e esquerdista e, nos anos 1950, estudou ciências sociais na USP, na rua Maria Antônia. No Rio, onde também viveu, trabalhou como jornalista no Última Hora. Nas duas cidades, fez parte ativamente da vida cultural, conhecendo muitos intelectuais e artistas, como Lygia Fagundes Telles e Lygia Clark.

De volta a São Paulo, foi professora de psicologia social na USP e na Fundação Getulio Vargas. A partir de 1970, foi influenciada pela psicoterapia corporal e de grupo, introduzida no Brasil por José Gaiarsa. Alguns anos depois, fundou um curso baseado nas teorias de Wilhelm Reich.

Finalmente, nos anos 1980, formou-se psicanalista e entrou para a Sociedade Brasileira de Psicanálise. Ao todo, clinicou por quase 50 anos.

Foi ainda colunista do caderno Equilíbrio, da Folha, entre 2000 e 2013. Depois disso, manteve colaboração estreita com o jornal, escrevendo na página A3, de opinião. 

Ela foi internada há cerca de duas semanas com infecção pulmonar, após passar por uma infecção urinária. Segundo seu desejo, não foram tomadas medidas de manutenção artificial de vida. 

A psicanalista será enterrada às 13h desta quinta (31) no Cemitério Israelita do Butantã. Segundo sua filha, Gabriela Bal, serão seguidos os preceitos judaicos, com um velório de apenas duas horas (às 11h). Anna Veronica deixa três filhos e cinco netos.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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