Um certo final de semana, Maria de Nazareth Meirelles se programou para coletar ouriços do mar para mais uma pesquisa que estava conduzindo. Com sete crianças em casa, ela e o marido, Marcio, colocaram todos dentro do carro e foram à Angra dos Reis para trabalhar. Enfrentaram chuva forte, mas voltaram para casa com o material de pesquisa em mãos.
A história, que o marido lembra anos depois, mostra um pouco como foram os 59 anos de casamento dos dois. Ele, médico, ela, professora e pesquisadora prolífica, formada em História Natural, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
“Eu acompanhava com muito carinho [o trabalho dela], porque desde que nos casamos, tínhamos um entendimento que ambos precisavam ter condições de desenvolver sua profissão. Então, colaborávamos muito”, conta ele.
O casal se conheceu em um grupo de jovens católicos dentro da universidade. Se formaram juntos em 1958, cada um no seu curso, e um ano depois, se casaram nos Estados Unidos, onde ele fazia residência. Foi lá que começaram a família.
Nazareth nasceu em Belém do Pará, a segunda de seis filhos. Perdeu o pai quando tinha dois anos, foi criada pelo padrasto, um comerciante, que acabou levando a família ao Rio, onde ela fez a vida.
Quando voltou do exterior, passou a dar aulas na rede municipal. Em 1972, depois de ter passado no concurso para a Fundação Oswaldo Cruz, começou a fazer a pós-graduação. Desenvolveu o setor de microscopia eletrônica e passou a pesquisar a biologia celular. Seu estudo mais importante é sobre a interrelação entre o agente da doença de Chagas e a célula hospedeira.
Nazareth morreu aos 83 anos, em decorrência de uma pneumonia, no dia 19 de janeiro. Ela tinha sido diagnosticada com Alzheimer alguns anos antes. Deixou o marido, oito netos, genros, noras e sete filhos.
“Dizem que ela teve mais que sete, porque os orientandos a consideravam como mãe. Ela foi uma pessoa muito generosa”, diz a filha Virginia.
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