Descrição de chapéu Obituário Elisa Frota Pessôa (1921 - 2018)

Mortes: Pioneira da Física, rompeu barreiras e foi cassada pelo AI-5

Elisa Frota Pessôa foi uma das fundadoras do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas

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São Paulo

Elisa tinha cerca de 16 anos quando entregou um dever de física com todos os exercícios respondidos corretamente na Escola Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro. O professor Plínio Süssekind Rocha disse que ela deveria ter um pai ou um irmão que sabiam tudo sobre a matéria. E ela teve que provar no quadro-negro que o raciocínio brilhante era seu. 

O mesmo professor —que a colocou como monitora— ​ foi o responsável por impulsioná-la a ir onde poucas mulheres ousaram. Desafiada, Elisa escolheu a física como caminho e se tornou uma das pioneiras no Brasil. Segundo a filha, Sônia, sempre foi assim. Quando ela encontrava um desafio, tratava de derrubá-lo. 

“Sempre digo que já nasci livre. O pessoal da minha geração tinha problema com trabalhar e ter filhos, a mamãe já quebrou isso tudo para mim”, conta. 

Elisa nasceu no Rio, em uma família orientada pelo conservadorismo do pai. Em casa, mulher deveria tocar piano, não falar à mesa. A avó materna, porém, era uma parteira independente financeiramente, e uma das tias, dentista.


​Elisa entrou na faculdade por incentivo do primeiro marido, o professor Oswaldo Frota Pessôa, com quem casou aos 17. Mesmo com dois filhos, nunca deixou de viajar, trabalhar e atender aos alunos que se encontravam sozinhos na Faculdade Nacional de Filosofia, onde ficava o curso de física. Quando o regime militar endureceu, ela ajudou alguns deles que foram detidos. 
 
Seguindo a política de suas convicções, sem ligação com partido político, quando o AI-5 foi instituído, Elisa viu seu nome na lista de professores universitários cassados e proibidos de ensinar em outras instituições do país. Nesta época, ela já vivia com o segundo marido, o físico Jayme Tiomno, outra referência na física nuclear, morto em 2011.
 
Depois de um tempo no exterior, o casal retornou no período da reabertura. A PUC do Rio ofereceu então uma sala para que trabalhassem e uma posição para Jayme. Elisa só voltou a trabalhar, no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas que ajudou a fundar, quando a ditadura acabou.
 
A física morreu no dia 28 de dezembro em decorrência de uma pneumonia. Vinte dias antes de completar 98 anos. Deixou dois filhos, cinco netas, nove bisnetos e um trineto a caminho. 

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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