Ray Brito foi chamado para cantar na festa junina de uma escola de Santarém. Montou seu teclado, improvisou o pedestal do microfone com um cabo de vassoura e fita adesiva, e soltou a voz. Todo lugar era palco quando ele sentia a hora de entrar no show.
Nascido em Santarém, uma das cidades mais antigas da Amazônia, filho de um comandante de barcos que navegava pelo rio Tapajós e de uma dona de casa, Raimundo sempre quis cantar. Com 14 anos, participava de shows de calouros pela região, sempre imitando seu ídolo, o cantor Roberto Carlos.
Aos 20, se juntou ao conjunto “Os Hippies”, que viajava pelo Pará cantando músicas no estilo de lambada e fazendo serestas. Perto dos 30, ele começou a carreira solo, com o nome artístico de Ray Brito.
Cantando, viajou por Belém, Fortaleza, Rio de Janeiro. Em terras cariocas, teve um encontro rápido com o rei. Ele conhecia a história de Roberto Carlos de cor. Até ganhou concurso provando. Durante as quatro décadas de carreira, Ray sempre abriu seus shows com “Emoções” ou “Detalhes” e com a frase clássica: “são tantas emoções”.
Mas, o repertório também incluía canções de amor, especialmente a Santarém. Em várias letras, Ray lembrava o céu colorido onde soltava pipas na infância, da Praça da Matriz e do cais do porto.
No dia 22 de dezembro, a cidade parou para se despedir de seu cantor. Ray morreu aos 67 anos, no dia 20, de um infarto fulminante. “Incrível o carinho que o povo tinha pelo meu irmão, as rádios tocaram o dia todo músicas dele sobre a terra de Santarém”, conta Sandra.
Na cidade, ele se lançou como ator, no curta-metragem "Covato" (2018), e foi eleito para ocupar a cadeira 33 da Academia de Letras e Artes. Ray deixou duas irmãs, sete filhos e netos.
“Meu pai vivia para cantar. Para ele, subir num palco era uma emoção imensa, que só vendo o rosto dele para ver. Era uma energia muito boa”, diz a filha Rayça.
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