Primeiro protesto após Doria endurecer regra tem drible na PM e mascarados

Manifesto contra aumento das tarifas do transporte não respeitou diretrizes do governo

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São Paulo

No primeiro ato do Movimento Passe Livre após o decreto do governador João Doria (PSDB) endurecendo regras para protestos, manifestantes driblaram a Polícia Militar pelas ruas do centro.

Houve presença de máscaras, que foram proibidas pela norma, e os agentes escalados para fazer mediação, chamados de "coletes azuis", não conseguiram garantir o cumprimento do trajeto combinado.

Duas pessoas foram detidas na Praça da República e encaminhadas para o 2º DP (Bom Retiro). Entre elas um adolescente flagrado atirando pedras e garrafas nos policiais e uma jovem utilizando máscara, que mesmo advertida continuou encobrindo o rosto e proferiu ofensas aos agentes.

O protesto pedia a revogação do aumento da tarifa de ônibus e transporte sobre trilhos, que passou de R$ 4 para R$ 4,30.

Segundo policiais mediadores, o trajeto acertado  com manifestantes era da Sé até a avenida Paulista, via Brigadeiro Luís Antônio.

Ao chegar à Paulista, no entanto, os manifestantes conseguiram fugir do cerco. Com a PM no encalço, eles seguiram pela avenida e desceram a Augusta. Na Consolação, para fugir dos policiais, entraram no meio dos carros na contramão da pista.

Policiais lançaram algumas bombas de gás, spray de pimenta e fizeram o protesto se dispersar por pequenos grupos pelas ruas da República.

Durante o ato, manifestantes gritaram: "É engraçado, é uma delícia, porque esse ato está driblando a polícia".

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) também foi lembrado, mas o principal alvo do protesto foi o governador João Doria (PSDB).

Na semana passada, o governador regulamentou lei que endureceu as regras para a realização de protestos, incluindo a previsão de levar mascarados para a delegacia e até ligar para seus pais e empregadores.

O tucano regulamenta uma lei que havia sido sancionada pelo então governador Geraldo Alckmin (PSDB) em 2014, um ano após os protestos de junho de 2013 e também pouco depois das manifestações contra a Copa do Mundo.

A regulamentação da lei, quatro anos depois da aprovação, aconteceu após o MPL  iniciar os protestos contra o aumento da tarifa. 

De acordo com a lei, o uso de máscaras é vedado e "autorizará a intervenção pelas polícias Civil e Militar, de modo a exigir o cumprimento das normas constitucional e legal". 

'COLETES AZUIS'

 

Desde as primeiras semanas do ano, policiais com coletes azuis com a inscrição "mediador" nas costas passaram a figurar nas manifestações. Os chamados PMs mediadores têm atuado nos protestos para servir de ponte entre representantes de movimentos sociais e o comando da Polícia Militar, em uma tentativa de minimizar ações de violência

Ainda em caráter experimental, o artifício dos PMs mediadores nas manifestações foi sugerido pelo Instituto Sou da Paz, que levou em 2017 um tenente-coronel da PM e um major do Batalhão de Choque para adquirir experiência com a Polícia Metropolitana de Londres, na Inglaterra, sobre ações policiais em manifestações. "Em Londres, a policia faz uma busca ativa pelo diálogo com os organizadores de protestos", diz Bruno Langeani, gerente do Instituto Sou da Paz, sobre o tipo de aprendizado buscado no exterior com a iniciativa.

Polícia Metropolitana de Londres enfrentou uma série de protestos violentos ao longo de 2011, quando diversos grupos tumultuaram as ruas da cidade para se manifestar contra a morte de um rapaz negro por oficiais armados. 

O grupo também foi a Belfast, na Irlanda do Norte, onde funciona uma espécie de comitê que reúne representantes do governo e da sociedade civil para mediar a organização de protestos em vez da polícia. "No Brasil, temos esse problema de o poder público enxergar os protestos como caso de policia, o que é perigoso", disse Langeani. 

Belfast também possui um extenso histórico de confrontos entre manifestantes e policiais por causa de confrontos entre católicos e protestantes.

No Brasil, os PMs que têm atuado como mediadores em protestos têm como única exigência ter passado pelo curso de gerenciamento de crise oferecido pela corporação aos oficiais. "O curso é composto por diversas matérias que envolvam negociação, gerenciamento de crise. Tudo que envolve conflitos", diz a tenente da PM Rita Cotecheski, integrante do comando da região central da cidade. 

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