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Projeto dá aulas de surfe a mais velhos e com depressão no litoral sul de SP

Idosos se reúnem além da praia e trocam incentivos, conselhos, convites e receitas

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Santos

“Chegamos a um momento da vida em que nos encontramos com duas opções: vamos desligar ou reiniciar? Escolhemos reiniciar”.

A frase da designer de moda Maria Aparecida Mobrizi, 60, chamada pelos mais íntimos de Cidoca, resume a escolha de um grupo composto por pessoas com mais de 50 anos que tem usado o surfe como uma espécie de terapia para combater dores, solidão e até a depressão.

Eles são alunos da Escola Radical de Surf, que oferece aulas públicas em Santos, no litoral sul de São Paulo.

Há quase 30 anos, já atendeu crianças, pessoas com mais de 80 anos, com paralisia cerebral e deficientes visuais. Desde outubro, no entanto, é a primeira vez com uma turma exclusiva para a idade.

“Não é uma aula técnica. Ela é recreativa, de recuperar o amor, o respeito, para sair de uma solidão, da depressão que não é aparente. O surfe é uma terapia”, disse o surfista Cisco Araña, 61, coordenador do projeto.

A aula começa com música de fundo, abraços e risadas do grupo. “Sempre tem algo dos anos 60 ou 70 tocando, é a gosto do Cisco”, brinca um dos alunos. Tudo feito sem pressa ou cobranças.

“Para eles, virou como um clube. Uma das causas de morte depois dos 50 anos é justamente a solidão. Aqui acabamos com isso”, falou Araña.

Há, realmente, casos sérios superados. Em um deles, Marcelo Vilas Boas, 51, sofreu um acidente de carro e quebrou a coluna em diversos lugares. Em seguida, o baque aumentou com um estresse que o fez perder a visão do olho esquerdo. Ele entrou em depressão e sofreu com crises de pânico. O surfe o ajudou a recomeçar.

“O surfe também virou o consultório da minha esposa. Ela convivia com uma grande depressão, de cama, mas um encontro mudou tudo”, contou Caetano Valentim, 61.

O encontro citado ocorreu quando após mais de cinco anos sem sequer ir à praia, a esposa de Caetano resolveu voltar. Encontrou com Araña, amigo de longa data. Ele insistiu para que ela tentasse a “terapia no mar”.

No mar, eles reservam muitos momentos curiosos. É constante que banhistas e pessoas que estão na praia se depararem com gritos, comemorações a aplausos.

“Damos muita risada. Acontece muito de irmos todos em uma mesma onda, bater prancha com prancha. Às vezes, não conseguimos levantar e quando levantamos há muita risada”, disse Vladimir Silva, 51, aposentado, que entrou para incentivar a mulher a vencer o medo de surfar.

Ao final de cada aula eles se reúnem em uma grande roda onde compartilham vivências.

O projeto ainda vai muito além das terças-feiras. Os alunos movimentam diariamente um grupo de WhatsApp onde trocam incentivos, conselhos, convites e até receitas.

“Conversamos muito pelo grupo. Agora, temos combinado muito para ir em shows. Dois professores nossos têm uma banda e tocam, acompanhamos eles”, disse Iracema Batista de Oliveira, 69, cabeleireira aposentada.

“Eles são exemplo para uma sociedade que coloca desculpa em tudo. Temos perdido o medo de envelhecer perto deles”, completou a professora Isabela Panza, 36.

O aluno mais velho é Francisco Verazane Aguiar, 74, que surfa há 12 anos. A turma é composta em sua grande maioria por iniciantes que nunca surfaram, mas tem, também, veteranos do esporte que utilizam o espaço para incentivar e seguir aprendendo.

O projeto começou em outubro e deu tão certo que já conta com mais outro grupo de quase 60 alunos à tarde, além de lista de espera.

Devido à visibilidade, também possui um patrocínio particular de uma rede de planos de saúde.

 
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