Carlos Bolsonaro diz que arma evitaria agressão a empresária; especialistas listam recomendações

Elaine Perez Caparroz foi espancada durante horas por homem com quem se relacionava online

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São Paulo

Para o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, uma arma de fogo teria evitado o espancamento da empresária Elaine Perez Caparroz, 55, desfigurada por um homem com quem pretendia ter um encontro romântico na madrugada de domingo (17). 

"Se esta senhora tivesse como se defender, e fosse de sua vontade, uma arma de fogo legal resolveria justamente este absurdo. Imagine as sequelas eternas deixadas por esse covarde?", escreveu o vereador em uma de suas redes sociais, aludindo a uma das pautas prioritárias do pai, que no 15º dia de seu governo liberalizou por decreto as regras para a posse, facilitando-a. 

"A defesa pessoal dentro de sua casa tem que ser prioridade urgente do Congresso Nacional", afirmou o vereador.

A polícia, porém, recomenda que os proprietários de armas as guardem em cofres, para evitar que sejam roubadas. Caparroz estava sozinha com o agressor, Vinícius Batista Serra, que a acordou com murros e golpes que impediram seus movimentos. Ela foi agredida durante quatro horas.

Internautas disseram que Caparroz, que é mãe do lutador de jiu-jítsu Rayron Gracie, foi imprudente ao receber Serra, 27, com quem trocava mensagens online havia oito meses, em seu apartamento na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. 

Serra, que foi detido em flagrante e deve responder por tentativa de feminicídio, já havia sido denunciado há dois anos pelo próprio pai por agredir o irmão deficiente.

A prevenção desse tipo de crime suscitou um debate diante da divulgação das imagens do rosto da empresária, deformado pela agressão. Ela sofreu múltiplas fraturas e lacerações e precisará de cirurgias. 

Prever o comportamento de alguém, independentemente do tempo que se conheça a pessoa, nem sempre é possível, mas a especialista em direito digital Camilla Jimene, do escritório Opice Blum, recomenda que, ao marcar um encontro, a pessoa analise as redes sociais e o teor dos conteúdos que seu alvo de interesse compartilha.

Pesquisar o nome da pessoa em sites de busca e checar se há processos criminais ou notícias negativas também é importante, mas não elimina as dúvidas. Serra, por exemplo, havia sido denunciado pelo pai em 2016, mas buscas por seu nome não registram o fato antes da notícia da agressão à empresária.

Isabela Del Monde, advogada da Rede Feminista de Juristas, sugere buscar comprovação das informações dadas pela pessoa em questão.

“Caso as informações não batam, melhor não ir ao encontro”, diz. “Por mais que elas não sejam um indicativo de que ele vá te agredir ou estuprar, a atitude pode significar que existe uma má intenção”, diz. 

Declarações amorosas excessivas também são um indicativo para suspeita. “A carência é a mãe da roubada”, diz a advogada. 

Se o encontro se confirmar, é possível compartilhar com amigos ou familiares o local e informações sobre a pessoa. Locais públicos dificultam a ação criminosa. 

Existem ainda aplicativos para celular, como o Botão do Pânico, que funcionam com chamado de  emergência: ao serem acionados, informam para pessoas de confiança que o usuário corre perigo e a sua localização.

Caronas devem ser evitadas, segundo a delegada Renata Cruppi, titular da delegacia da mulher de Diadema. Por melhor que tenha sido o primeiro encontro, divulgar o endereço da residência torna a mulher mais vulnerável a ameaças e assédio. 

Outros tipos de informações pessoais, como local de trabalho e situação financeira, também devem ser resguardadas no início. 

“Com tantos cuidados não dá nem vontade de entrar no aplicativo, mas são os detalhes que salvam vidas”, diz Cruppi. 

No caso de Caparroz, é improvável que as medidas recomendadas —da posse de arma defendida por Bolsonaro às sugestões de especialistas— evitassem o ocorrido.

Resta, portanto, a denúncia. Agressões físicas e sexuais devem ser registradas na delegacia mais próxima. Ter em mãos informações sobre o criminoso e fotos das marcas do ataque pode ajudar na investigação.

Na impossibilidade de evitar um abuso, o importante é que a mulher saiba que não fez nada de errado, afirma Isabela Del Monde. “Quem cometeu o erro foi o agressor, não a mulher. A Elaine Caparroz não fez nada de errado.”

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