Um jovem morreu na tarde desta quinta (14) após ser imobilizado por um segurança do supermercado Extra na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Ele era dependente químico e teve um surto, conforme familiares contaram à polícia.
Pedro Henrique Gonzaga foi levado já em parada cardiorrespiratória para o hospital municipal Lourenço Jorge, no mesmo bairro. O Corpo de Bombeiros, que fez o transporte, afirmou que ele estava em "estado vermelho de saúde", ou seja, não estava mais respondendo.
Depois, o rapaz foi ressuscitado, mas teve outras duas paradas e morreu às 15h10, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. O corpo foi encaminhado ao IML (Instituto Médico Legal) e o caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da capital fluminense.
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra Gonzaga deitado e aparentemente desacordado no chão, com o segurança Davi Ricardo Moreira Amâncio, 32, deitado sobre ele durante no mínimo um minuto. O vigia contesta pedidos de outras pessoas para que ele solte o rapaz.
Uma diz: "Está desmaiado, não está, não?". Ele afirma: "Circula, quem sabe sou eu, pô". Outra mulher grita: "Ele tá com a mão roxa". E então o segurança repete diversas vezes: "Você tá mentindo". Há outros funcionários e vários clientes em volta olhando a cena.
Na versão da defesa do vigia, a sequência dos eventos se deu da seguinte forma: o rapaz correu em direção a Amâncio —o que a mãe confirmou a uma das testemunhas que prestou depoimento— e, parando a cerca de dois metros de distância, se jogou no chão e simulou uma convulsão e um desmaio.
"O segurança imediatamente se aproximou, abaixou, botou ele de lado e levantou a cabeça dele, seguindo os procedimentos de primeiros socorros", afirma André Barreto, advogado da empresa Groupe Protection, responsável pela vigilância no supermercado Extra.
Logo depois, o jovem partiu para cima do segurança, pegou a arma na perna dele e começou a ameaçar as pessoas, ainda de acordo com a defesa. Um segundo vigia, Felix, chegou e conseguiu tirar a arma de Gonzaga. O advogado disse não saber o sobrenome desse segundo vigia.
O rapaz, no entanto, se voltou novamente para Amâncio e os dois entraram em luta corporal. O vigia o conteve com o corpo. "Não tem mata-leão no vídeo", afirma Barreto. Foi aí que o jovem desmaiou, mas a defesa diz que o segurança achou que ele estava fingindo mais uma vez, por isso teria gritado "você tá mentindo" no vídeo.
De acordo com o depoimento de uma das testemunhas, a mãe do rapaz —que ainda não depôs porque está em estado de choque— confirmou que os dois entraram em luta corporal, mas disse que a arma do vigilante acabou se soltando. Ela mesmo teria chamado outros seguranças para impedir que o filho pegasse o revólver.
O delegado Cassiano Conte, que está cuidando do caso, confirmou que, segundo familiares, Gonzaga era dependente químico e teve um surto. Ele seria internado horas depois em uma clínica em Petrópolis (região metropolitana do Rio), e a família estava no supermercado para comprar mantimentos.
Questionado sobre o que é possível dizer sobre a atuação do segurança até agora, o delegado afirmou por mensagem à Folha que "ele agiu com excesso na forma de conter a vítima, conduta imprudente". Amâncio foi preso em flagrante e indiciado por homicídio culposo, com o agravante de "inobservância de regra de profissão".
De acordo com seu advogado, o segurança chegou a acompanhar a vítima até a unidade de saúde e depois ficou detido por cerca de duas horas na delegacia para prestar esclarecimentos. Foi solto após pagar fiança de R$ 10 mil e responderá o processo em liberdade.
Até agora foram ouvidos três funcionários do supermercado, o padrasto e dois amigos da vítima. Outras possíveis provas, os vídeos internos do Extra "são menos esclarecedores do que o que foi divulgado na imprensa", diz o delegado.
O supermercado, que pertence ao Grupo Pão de Açúcar, afirmou em nota que os vigias envolvidos no caso foram afastados definitivamente e que instaurou uma sindicância interna "para acompanhamento junto à empresa de segurança e aos órgãos competentes do andamento das investigações".
Também reiterou que não aceita qualquer ato de violência e que "um grave fato ocorreu na loja do Extra e a rede não vai se eximir das responsabilidades diante do ocorrido, sendo o maior interessado em esclarecer a situação o mais rapidamente possível".
Por fim, acrescentou que, "independentemente do resultado da apuração dos fatos, nada justifica a perda de uma vida e a companhia se solidariza com os familiares e envolvidos". Nas redes sociais, internautas criaram um evento com mais de 2.000 confirmados convocando uma manifestação em frente à loja no próximo domingo (17).
Colaborou Marcela Lemos, do UOL
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.