Descrição de chapéu Obituário Linda Palma Bevilacqua Donato (1928 - 2019)

Mortes: Boêmia paulistana, doava livros e memórias

De comissária de bordo a datilógrafa, Palma Donato viveu romance de 40 anos

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São Paulo

Se Palma Donato pudesse ser descrita numa só palavra, seria paulistana. Boêmia, ia de bares e baladas a inferninhos próximos a Santa Efigênia, bairro da região central da capital paulista, onde se reuniam muitos atores.

Mas foi por acaso que ela entrou no ritmo dos artistas. Ainda nova, perdeu os pais e uma irmã num acidente de avião. O episódio traumático a fez virar arrimo de família e comissária de bordo –dizia querer morrer voando.

Linda Palma Bevilacqua Donato (1928-2019); Mulher do autor Marcos Reys, doava livros e memórias
Linda Palma Bevilacqua Donato (1928-2019); Mulher do autor Marcos Reys, doava livros e memórias - Reprodução/Global Editora

Quando deixou a profissão, foi buscar emprego como datilógrafa numa recém-criada editora do publicitário, radialista e escritor Edmundo Donato, que tinha como pseudônimo Marcos Rey. Os dois acabaram se apaixonando no fim dos anos 1950 e ficariam casados por quatro décadas. 

A partir da relação, ela começou a fazer parte não só da boemia, mas também era presença constante na Academia Paulista de Letras. 

Era, de certa forma, mulher e enfermeira do autor que vendeu milhões de obras e marcou época ao retratar São Paulo. Ele tinha hanseníase, nunca revelada durante a vida. E era Palma quem o tratava, em casa. 

Anos depois, ela passou a dar até palestras sobre a doença e como fazia para amenizar as feridas que iam surgindo no marido –uma de suas ideias, de colocar absorventes nos pés machucados para que ele pudesse calçar sapatos, seria mais tarde replicada. 

Sem que a editora tivesse dado certo, ela chegou a vender seu Gordini, carro popular de então, para que Rey pudesse viver por um tempo apenas para os seus livros.

Entre os escritos dele estavam muitas cartas para a mulher. As escrevia sentado no chão da sala, olhando para Linda Palma –como gostava de chamá-la. Tais textos viraram livro, de mesmo nome. 

Depois que Rey morreu, em 1999, Palma passou a administrar o seu espólio. Mas ela tinha "espírito generoso", diz Jiro Takahashi, amigo do casal. Doava livros e ajudava financeiramente casas de repouso.

Tinha como projeto escrever um livro de suas memórias. Começava a rascunhar os detalhes de uma vida, quando teve um AVC (acidente vascular cerebral) no dia 19 de fevereiro. Morreu aos 90 anos. Deixou amigos e uma sobrinha.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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