O pai e a mãe de José Tonidandel vieram do Tirol, na divisa da Itália com a Áustria, e se conheceram na capital paulista. Da casa com três irmãos na Mooca, ele guardou o hábito de cultivar uma horta. Da infância de escassez, dizia gostar de um tipo de prato: o cheio. Comia de tudo.
Ainda assim, era magrelo para os seus 1,94 m. É que José gostava muito de andar. Não pegava ônibus, preferia ir a pé. Até os 80 e poucos anos, descia e subia quilômetros todos os dias pela manhã. Estava sempre em movimento. "Por isso ele viveu muito", diz o filho, Sérgio.
Também fazia parte da rotina ir às 4h30 até a padaria próxima de casa. Lá, ajudava o padeiro iniciante no negócio a cortar e embalar os pãezinhos para vender --sem cobrar nada em troca. Até porque não fazia o tipo ambicioso.
Tendo estudado só o primário, José aprendeu num curso a profissão que teve por décadas e que adorava: torneiro ferramenteiro (aquele que faz peças de precisão para equipamentos). Mas, autodidata, sabia ainda inglês, italiano e castelhano. Lia de jornal a bula de remédio --sem precisar de óculos.
Bastante religioso, fazia questão de ir à missa aos domingos. E era honesto "até demais", diz o filho. "Ele exagerava. Aceitava qualquer coisa, menos desonestidade e o que prejudicasse os outros."
Casado por 59 anos com a italiana Bruna, que foi o amor de sua vida, ficou viúvo em 2004. José manteve saúde invejável e chegou aos 98. Morreu naturalmente, no dia 30 de dezembro do ano passado. Deixou um filho, três netos e quatro bisnetos.
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