Descrição de chapéu Obituário Viviane Minerbo (1932 - 2019)

Mortes: Judia egípcia, estudou quando direito era negado às mulheres

Viviana Minerbo ignorou as amarras dos anos 1950 e ousou cursar serviço social no Egito

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São Paulo

Viviana Minerbo nasceu na capital egípcia, numa comunidade judaica conservadora, onde as mulheres não chegavam à universidade, sob risco de não conseguirem casar. Pois ela ignorou as amarras daquele início dos anos 1950 e ousou cursar serviço social na American University of Cairo.

Viviana Minerbo (1932-2019); Judia egípcia, ousou estudar quando direito era negado às mulheres
Viviana Minerbo (1932-2019); Judia egípcia, ousou estudar quando direito era negado às mulheres - Arquivo Pessoal

Não se contentou. Conseguiu bolsa para se especializar nos EUA, enquanto ouvia do pai os vários "já estudou muito, não vai arrumar marido". Foi ao consulado italiano (país de origem da família, do qual ela também tinha nacionalidade) para obter um passaporte, enquanto o cônsul era pressionado pelo patriarca a não autorizar. Aos 23, Viviana fez greve de fome para estudar.

Três semanas antes de embarcar, ela se apaixonou, mas não desistiu da viagem de navio por outros 20 dias. O casal se correspondeu por um ano através de cartas. Quando ela voltou, os dois casaram, no fim de 1955 –numa união que duraria toda a vida.

Só que apenas dois meses depois, toda a família precisou imigrar para o Brasil com a expulsão dos judeus, católicos e estrangeiros do Egito pelo então presidente Gamal Abdel Nasser. 

Viviana Minerbo (1932-2019); Judia egípcia, ousou estudar quando direito era negado às mulheres
Viviana Minerbo (1932-2019); Judia egípcia, ousou estudar quando direito era negado às mulheres - Arquivo Pessoal

Recém-aportados em terras latino-americanas e sem falar português, Viviana foi a primeira a encontrar emprego, como secretária executiva. Logo começou também a cursar psicologia e depois se enveredou pela psicanálise. Atendeu em consultório, deu aula, teve forte atuação na Sociedade de Psicanálise de São Paulo.

Muito ativa e disciplinada, Viviana não se fazia de rogada quando podia nadar e jogar frescobol na praia do Guarujá, onde tinha casa. Também era presença certa em exposições, seja nos museus da capital paulista, seja nos europeus e americanos –era fã do escultor Constantin Brâncuși.

Feminista à frente do próprio movimento, Viviana foi apagando nos últimos 10 anos, por conta do Alzheimer. Morreu no dia 15 de fevereiro, em São Paulo. Deixou três filhos, oito netos e seis bisnetos.

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