Osmar Brina nunca respondia uma pergunta em sala de aula. Preferia levar o aluno a pensar sobre a indagação. Também subverteu a lógica do ensino apenas teórico e instaurou na Faculdade de Direito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) o hábito de citar casos para explicar o conceito.
Lá, se formou, fez doutorado, lecionou por 40 anos, foi vice-diretor e incentivou uma geração de advogados dedicados ao direito empresarial.
O jurista mineiro de Belo Horizonte chegou a subprocurador-geral da República, com atuação no Superior Tribunal de Justiça, além de ter sido um dos fundadores da Faculdade Milton Campos, em Nova Lima (MG).
Quando novo, Osmar batia ponto na loja de eletrodomésticos do pai comerciante. Mas aproveitava os momentos de ócio para estudar as matérias da faculdade, que escolhera após um teste vocacional.
Se não estava lendo, poderia estar cantando a italiana "Nel Blu Dipinto Di Blu", de Domenico Modugno, conhecida pelo refrão "Volare... oh, oh! Cantare... oh, oh, oh, oh!". Ou ainda estar criando coletâneas de músicas: no fim do ano, ouvia as de Natal, em fevereiro, as carnavalescas.
Osmar também tinha apreço por anjos, que ilustravam seu plano de fundo do celular. Católico fervoroso, era devoto de Santo Antônio. Na igreja, usava da sua formação psicanalítica para prestar atendimento voluntário aos mais carentes.
Mesmo quando rigoroso, o jurista era gentil. "Não lembro de nenhuma vez que ele tenha sido grosseiro com ninguém", conta o filho, Sérgio, que ri da mania do pai: sempre que visitava uma cidade e gostava, dizia que iria se mudar para lá. A última foi Gramado (RS). "Ele falava 'vou comprar uma casa aqui', mas não comprava, nem mudava". Viveu sempre na capital mineira.
Osmar morreu na noite de domingo (17), por complicações de uma cirurgia, feita em São Paulo. Deixou uma companheira, Eugênia, dois filhos, Sérgio e Ézio, um neto e quatro irmãos.
coluna.obituario@grupofolha.com.br
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.