Foi do avô e do pai que Vandré herdou o hábito de devorar livros. Daí, foi um pulo para o paulistano se graduar jornalista pela Cásper Líbero. Recém-formado, foi passar férias com a mãe, que lecionava numa universidade em Boa Vista, e não voltou mais.
Começou a carreira no jornal Brasil Norte e logo estaria na Rede Amazônica de Televisão (afiliada da Rede Globo), onde trabalhou por duas décadas, primeiro na capital roraimense e depois em Manaus, na TV Amazonas. Foi apresentador do Bom Dia Amazônia e chefe de reportagem, mas gostava mesmo da rua.
Era o tipo de repórter que não se incomodava em literalmente afundar na lama para mostrar as dificuldades enfrentadas por ribeirinhos. "Foi onde ele se encontrou. Contar as histórias do interior afora, das florestas, dos indígenas, as contrariedades da região", diz a mãe, Teresinha.
Em 2011, Vandré acompanhou a missão humanitária brasileira depois do terremoto no Haiti. "A gente ficava preocupada, mas ele estava feliz. Era o que gostava de fazer", diz a mulher, a veterinária Rob Mesquita.
Na época da TV, o jornalista não se desligava das pautas. Mas há dois anos, decidiu diminuir o ritmo —domingos seriam sagrados para ficar em casa. Poderia se dedicar mais a massas, omeletes e cafés gourmet e botar em dia as séries a que assistia.
Não deixou de lado a reportagem. Integrava a rede de jornalistas da agência Amazônia Real, produzia o embrião de um podcast em espanhol para imigrantes venezuelanos e botava de pé o primeiro site de checagem de fatos na Amazônia.
No final de janeiro, Vandré foi à periferia de Manaus mostrar moradias precárias, sem saber que já estava infartando. Internado desde 30 de janeiro, o jornalista passou por cirurgia, mas teve um AVC (acidente vascular cerebral) e morreu no último domingo (17), aos 46 anos. Deixa a mulher, a mãe, o avô, Jorge, a irmã, Daniela, e três sobrinhos.
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