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Vizinhos quebram parede e resgatam grávida em Mauá

Mulher é mãe de 2 das 4 crianças mortas em deslizamentos no sábado (16)

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Mauá (SP) | Agora

Moradores do bairro Jardim Zaíra, em Mauá (na região do ABC paulista), quebraram uma parede para resgatar uma mulher grávida dos escombros de sua casa, após um deslizamento por volta das 19h no último sábado (16).

Casas destruídas por deslizamento no Jardim Zaíra, em Mauá (ABC) - Amanda Perobelli/Reuters

Quando a parede foi quebrada, Talita Santos, 34, estava debaixo de sua geladeira, com fraturas no ombro e havia perdido parte do couro cabeludo. Gravida de três meses, é mãe de duas das quatro crianças que morreram em dois deslizamentos de terra no mesmo bairro de Mauá.

O porteiro Alexandre Ferreira, 42, conta que foi um dos primeiros a chegar até Talita. Ao entrar na casa destruída pela lama que desceu o morro, Alexandre encontrou a filha mais velha de Talita, de 12 anos e que sofreu apenas escoriações. "Quebramos uma parede e achamos a menina mais velha. A mãe dela estava embaixo da geladeira. Eu larguei tudo para tirá-la de lá", conta.

Os vizinhos tentaram encontrar os dois filhos mais novos de Talita, Miguel dos Santos Silva, 8, e Maria Heloísa, 1, em meio aos escombros, mas não conseguiram. As crianças estavam soterradas. Com a chegada dos bombeiros, até cães farejadores foram utilizados nas buscas dos corpos, que só foram encontrados horas depois.

Segundo vizinhos, Talita estava feliz por ter conseguido adquirir a sua casa própria recentemente. O imóvel ficava na rua Ane Altomar, e teria custado R$ 20 mil. Até a conclusão deste texto, ela continuava internada.

Segundo moradores do bairro, a bebê Maria Heloísa fazia a alegria do bairro. "E o menino era educado e ia ao culto aos sábados. Naquela tarde, ele brincava com meu menino na rua. De noite ele morreu", disse Alexandre.

Os filhos de Talita não foram as únicas vítimas neste bairro no sábado. A cerca de um quilômetro da casa de Talita, em outro deslizamento, os irmãos Guilherme, 4, e José Henrique, 11, também morreram. Segundo moradores e amigos da família, os dois estudavam em uma escola no bairro e gostavam de brincar de bola na rua.

"Esses dois meninos eram amáveis, se divertiam como crianças felizes, todos eram amigos", definiu o cozinheiro Lenildo Manoel de Souza, 53.

Para Leonildo, a tragédia no bairro poderia ter sido maior. Ele conta que sua mulher e filho, de 22 anos, estavam dormindo quando as casas no Jardim Zaíra começaram a ser levadas pelo deslizamento. 

"Meu filho e minha esposa dormiam na casa que fica atrás à da família que foi soterrada. No momento do estrondo, das lajes e terras caindo, um pit bull entrou pelas casas e acabou pulando no peito do meu filho, que acordou no susto e percebeu o que ocorria. O cão salvou a vida da minha família", disse, emocionado.

O cachorro era do cunhado dele, que morava na casa debaixo da dele. Ambos perderam tudo o que tinham. O cunhado estava na casa com o filho de nove anos e ambos também conseguiram escapar pela janela do banheiro.

A partir de agora, a preocupação dele é arrumar um outro teto. "Nós não temos mais nada. Tem carro, moto nos escombros. Eu não sei para onde nós vamos."

A Prefeitura de Mauá diz que as famílias desabrigadas foram para a casa de parentes e estão recebendo suporte. A prefeitura afirma que equipes estão em alerta.

Para os moradores do bairro, nem mesmo a preocupação de deslizamentos faz com que as pessoas deixem de adquirir casas em locais de risco geológico. "É onde dá para investir o dinheiro suado. Sempre que desliza terra, dá um tempo e vem outra pessoa, constrói no lugar e alguém vai morar. Não tem jeito", afirmou Alexandre Ferreira.

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