Duas das maiores campeãs do Carnaval paulistano desfilaram na madrugada deste domingo (3), no Anhembi, e mostraram na avenida que pretendem manter a hegemonia.
Mocidade Alegre, com 10 títulos, e Vai-Vai, isolada na liderança com 15, fizeram desfiles que contagiaram o público, com propostas originais e bem trabalhadas na avenida. Com isso, junto a Império de Casa Verde e Acadêmicos do Tatuapé, que se apresentaram na madrugada de sábado (2), tornaram-se favoritas na briga pelo título de campeã de 2019.
A Mocidade Alegre trouxe muito luxo e brilho ao Anhembi.
O acabamento e tamanho das alegorias já chamavam atenção desde a concentração, mas na avenida, em pleno desfile, causaram grande impacto.
O abre alas, por exemplo, primou pela beleza até mesmo nas costas do carro, que tinha a escultura de uma índia, pintada de azul, representando a Lua que chora pelo amor impossível com o Sol.
Dessas lágrimas, segundo uma lenda amazônica, nasce o rio Amazonas; na avenida, elas eram apenas o prenúncio da passagem da Mocidade.
O carro que representava a fauna amazônica, adornado por um grande arco-íris e um carrossel de peixes, impressionou pela originalidade e pelo acabamento.
Força define o belo desfile da Vai-Vai.
A escola teve dificuldades com alguns carros alegóricos e chegou a parar em alguns momentos. Mas o ótimo samba, o ritmo intenso da bateria e principalmente o enredo garantiram uma dos melhores retornos do público neste ano.
A rica herança dos povos africanos foi exaltada em todo o primeiro setor da escola, que levou à avenida o enredo "Quilombo do Futuro".
Um segundo setor aberto por um carro alegórico lembrava a diáspora negra e a travessia do Atlântico. No fundo desse carro, uma escultura de Iemanjá acalentava uma criança negra.
Nessa fase do desfile, foi lembrada a luta negra por direitos civis. Uma ala formou um mosaico com uma foto da vereadora Marielle Franco, assassinada a tiros no Rio de Janeiro, em março de 2018, em um crime ainda sem resposta.
Um terceiro setor indicava que o futuro do mundo e da humanidade depende da sabedoria negra: o futuro é negro.
A última ala da escola tinha uma das fantasias mais simples e emblemáticas do desfile e representava universitários, de beca e diploma na mão.
A tradicional Rosas de Ouro, Unidos de Vila Maria e Dragões da Real também fizeram desfiles de bom nível, ainda que menos impressionantes ou incisivos.
A Rosas, sete títulos no currículo, homenageou a Armênia, tratando inclusive do genocídio de 1915, que se estima que tenha vitimado cerca de 1,5 milhão de armênios após ataque do Império Otomano (atual Turquia). O desfile abordou também as artes, a religião e os famosos de origem armênia, como o cantor francês Charles Aznavour (morto em 2018), o ator Stepan Nercessian e a celebridade Kim Kardashian.
Já a Vila Maria, que nunca foi campeã, fez um desfile sobre o Peru: a herança incaica; os costumes de seu povo; a história de colonização e exploração; as artes.
O primeiro carro, com lhamas em destaque, e o segundo, com as mulheres que trabalham nas colheitas e seus vestidos típicos, foram exemplos de desenho bem pensado, harmônico, sem espalhafato.
Problemas de acabamento apareceram pontualmente, mais em carros do que em fantasias.
A Dragões adotou como tema a relação do homem com o tempo, e fez apresentação correta. A Águia de Ouro também desfilou, com grande destaque para sua bateria, que animou o público com longas paradas e variações de ritmos.
A Gaviões da Fiel fechou os desfiles no Anhembi com a reedição de um samba de 1994, popular entre torcedores corintianos, o que garantiu a animação em alta até mesmo quando o sol já iluminava o sambódromo.
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