Zenaide Raw apurou o gosto para vendas cedo, seguindo os passos dos pais judeus que, vindos da Polônia para São Paulo, viraram comerciantes. Primeiro, na Leão de Pederneiras, loja na cidade interiorana de mesmo nome, onde a menina nascera.
Depois, na butique masculina na capital, que foi aos poucos sendo assumida por Zenaide --e acabou transformada num empório de roupas infantis, a Gato de Botas.
O negócio se expandia até o Ato Institucional nº 5, da ditadura militar, separar a família. Zenaide precisou se exilar nos EUA com o marido, o professor da USP, Isaias Raw.
Com o fim da repressão, dez anos depois, o casal voltou ao Brasil. Ela abriu uma nova loja de roupas, mas queria mesmo uma delicatessen como as que conhecera em Nova York.
Foi aí a origem da Z Deli, que naqueles anos 1980 era uma portinha só, com salão espremido e comida judaica à mostra num balcão, na rua Haddock Lobo, nos Jardins.
Era o sonho de Zenaide, que se fazia incansável. Em uma semana, o freguês virava amigo --alguns iam à loja apenas para dividir a rotina diária com a restauratrice, que não se furtava a distribuir sorrisos. "Ela gostava mesmo era de trabalhar. A vida girava em torno do restaurante", conta a filha, Silvia.
A Z Deli dos gefilte fish e patês de ovo virou uma sandwich shop, ganhou filiais pelos Jardins e em Pinheiros. Também acumulou prêmios. O primeiro ponto foi assumido pelo sobrinho-neto de Zenaide, o chef Julio Raw.
E ela começou a tocar a filial da alameda Gabriel Monteiro da Silva, reformada em dezembro. Zenaide bateu ponto no por lá até início de fevereiro. Morreu no dia 24, aos 88, em decorrência de um melanoma. Deixa o marido, dois filhos, Silvia e André, três netos e oito bisnetos.
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