Pai de Bernardo reclama da personalidade do filho e nega assassinato

Médico Leandro Boldrini, apontado como um dos autores do crime, culpa madrasta

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Porto Alegre

O médico Leandro Boldrini, pai do menino Bernardo, morto aos 11 anos em abril de 2014, em Três Passos, no interior do Rio Grande do Sul, reclamou da personalidade do filho durante seu interrogatório e negou o assassinato. Ele culpou sua mulher Graciele Ugulini, madrasta do menino.

O julgamento ocorre cinco anos depois da morte da criança e deve durar uma semana. O pai de Bernardo, a madrasta e os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz respondem pelos crimes de homicídio qualificado, ocultação de cadáver e falsificação ideológica.

“[Ele tinha] um grau de personalidade muito forte. Se ele queria uma coisa, tinha que ser agora, ele insistia”, disse o pai.

Boldrini ainda falou que o filho “não era assíduo” na catequese [ele era coroinha] e que não foi à primeira comunhão do garoto porque tinha um outro compromisso marcado junto com a madrasta.

Questionado sobre o filho passar dias fora de casa, Boldrini falou que Bernardo “estava começando a ficar mais autônomo” e “definia onde queria ir”.

Na terça-feira (12), Juçara Petry, moradora da cidade que cuidava de Bernardo com roupas, alimentos e atenção, relatou que a criança chegou a passar 15 dias na sua casa sem que ninguém da família do garoto entrasse em contato. 

De acordo com ela, Bernardo ficava trancado para fora de casa e precisava ir para a escola e outras atividades sozinho, recebendo carona de professoras e da família de Juçara. Ela recordou que seu marido, Carlos, ajudava o menino com os temas de matemática. “Ele dizia: 'Se eu acertar [os cálculos], o tio Carlinhos não vai mais me ensinar'”, contou.

Indignado com o descaso com a criança, Carlos marcou uma consulta com Boldrini, única forma que encontrou de ser recebido por ele. O médico reclamou do comportamento do menino, mostrando um vídeo em que Bernardo segura um facão.

Na gravação, Boldrini provoca o garoto: “Vamos, machão, faz alguma coisa com essa faca”.

No depoimento desta quarta (13), o pai voltou a mencionar o vídeo como indício da “personalidade muito forte” do menino, o que foi desmentido pelas testemunhas que conviviam com Bernardo. Boldrini ainda responsabilizou a madrasta, que teria pedido para que ele gravasse o vídeo.

“A Graciele disse ‘tem que gravar, tem que gravar’. Eu gravei. Minha intenção era mostrar para o psiquiatra essa situação difícil. Mostrei também pro tio Carlinhos Petry”, contou.

Em outro vídeo, ele chama o filho de “froinha”, e o garoto diz que tem marca de agressão da madrasta. Graciele chama a mãe de Bernardo de “vagabunda”.

Odilaine Uglione, mãe de Bernardo, foi encontrada morta no consultório de Boldrini em 2010. A avó do menino desconfiava que não havia sido suicídio. 

O Ministério Público reproduziu uma gravação telefônica em que o padrinho de Bernardo telefona para Boldrini após o desaparecimento do garoto. O padrinho está preocupado e questiona se Graciele realmente voltou para a casa com o garoto naquele dia, como tinha dito.

O pai e a madrasta foram para uma festa de música eletrônica na noite do crime. “A Kelly [apelido de Graciele] sumiu com esse guri. Tu tá aí dormindo com essa bagaceira”, gritou o padrinho.

No final da sessão desta quarta, Boldrini se defendeu e disse que pretende retomar sua vida quando sair da prisão, voltando a trabalhar como médico em Três Passos.

“Foram elas [que mataram Bernardo]. Se eu fui um pai ausente? Fui. Mas só mata quem tem a patologia, a loucura do assassinato. É uma coisa que, cientificamente, pode explicar uma coisa dessas. E louco ainda de achar que não vai ser descoberto. Não tenho medo de dizer que foram elas”, afirmou.

A defesa de Graciele disse à imprensa, antes do julgamento, que o menino se automedicou e morreu no carro da madrasta. A promotoria, porém, aponta que a cova onde ele foi enterrado já estava pronta dias antes. 

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