Descrição de chapéu Alalaô

Socorro busca referências regionais para criar sua identidade carnavalesca

Conhecida pelo turismo de aventura, cidade agora quer se tornar referência no Carnaval família

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Socorro (SP)

Reserve espaço para os pequenos e os mais velhos brincarem em meio à multidão. Incentive a criação de blocos locais e traga também grupos festeiros de fora, inclusive os de São Luiz do Paraitinga, referência nacional, com suas tradicionais marchinhas. Nesse caldeirão de culturas típico do Carnaval, Socorro busca confeccionar a sua própria fantasia.

Ainda dá tempo de entrar nessa dança. Socorro fica pertinho de São Paulo, a 138 km de distância da capital.

Localizada em um vale na serra da Mantiqueira, ela integra o Circuito das Águas Paulista. Com cerca de 40 mil habitantes, a cidade vê a sua população dobrar nestes quatro dias da maior festa popular.

Dona de uma vocação para o turismo de aventura, aproveita o feriadão para levar para a avenida também seus visitantes, que estão ali para fazer rafting, escaladas, pescar ou simplesmente relaxar. 

Iniciativa de hotéis e pousadas, o bloco dos turistas ia desfilar na noite deste domingo (3), com 1.200 integrantes devidamente ornamentados de abadás.

“Fugi da bagunça de São Paulo para dar a oportunidade à minha filha de conhecer o verdadeiro significado do Carnaval de rua”, resumiu o autônomo Kleber Igreja, 39, morador da Vila Prudente (zona leste da capital), que passa com a família seu primeiro Carnaval em Socorro.

Ao lado da filha Sophia, 6, e do serelepe Heitor, 1, a mãe das crianças, Conceição, 34, contadora, diz que não se sente segura para levar a criançada aos blocos paulistanos. “Trabalho na Vila Madalena, no meio do fervo. As cenas de gente enchendo a cara, jogando lixo em qualquer canto e fazendo xixi na rua são muito deploráveis. Ainda bem que aqui não tem nada disso.”

Para o guia Marcelo Toledo, 41, de Santana (zona norte), o “ambiente familiar, sem briga e com uma certa dose de ingenuidade” fez com que ele decidisse levar dez pessoas de sua família para Socorro.

A preocupação com a segurança é prioridade tanto de dia quanto à noite, na avaliação do secretário municipal da Cultura, Tiago de Faria, 38. Embalagem de vidro não pode, assim como serpentina metalizada e spray líquido. Seguranças são chamados de orientadores de público.

Seu colega na pasta de Turismo, Acacio Zavanella, 62, calcula que o investimento da prefeitura gire em torno de R$ 300 mil, com uma expectativa de injetar na economia ao menos R$ 25 milhões.

Nestas tardes quentes de Carnaval, enquanto a banda toca no palco, um agrupamento de crianças faz a festa na máquina de espuma montada em frente ao cartão-postal do lugar: a igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, concluída em 1924, em estilo eclético —a santa empresta seu nome à cidade.

A festa acontece ali na praça da igreja matriz e também nas ruas Campos Salles e 13 de Maio, em uma área de quase 1 km. Ao todo, 4.000 integrantes se dividem entre duas escolas de samba e 12 blocos (três deles vieram de São Luiz de Paraitinga, cidade com a qual Socorro mantém um intercâmbio cultural).

Não tem essa de bloquinho temático. Lá, são genéricos.

Na noite de sábado (2), as ruas da cidade se transformaram num espetáculo circense, com uma apresentação repleta de humor e irreverência, promovido pelo bloco Nheco Vai - Nheco Fica.

Criado em 1981 como forma de protesto devido ao cancelamento do desfile de Sete de Setembro, em Itapira (SP), o grupo de palhaços é formado por 70 profissionais liberais, advogados, aposentados, mecânicos e eletricistas, com idades entre 30 e 72 anos. Nele, não há mulheres.

Eles se reúnem 60 dias antes do Carnaval para elaborar as tiradas que serão colocadas em prática durante a folia. Entram na avenida com oito veículos estilizados, de carro a moto, de minibike a carrossel, sempre interagindo com o público, de bebês a vovós. Um deles distribuía “água benta” diretamente da fonte do médium João de Deus (réu preso pelos crimes de estupro de vulnerável e violação sexual).  

 “É tontice de adulto feita para alegrar as crianças e também os marmanjos”, resume o italiano de Florença Alessandro Ninci, 61, presidente do grupo, vendedor que mora há 20 anos no Brasil.

De roupas coloridas e sapatões gigantes, sem falar no nariz vermelho pisca-pisca, Ninci também toca sax. Credita certa dose de autenticidade crítica à performance do grupo. “Confesso que ser palhaço me emociona. Nem que seja ao menos por quatro noites durante o ano. Quem me dera pudesse ser mais.”

Socorro! Que palhaçada!

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