Um ano após tremores, bairro de Maceió ganha ares de cidade-fantasma

160 imóveis já foram condenados pela Defesa Civil; causas ainda são estudadas

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Rachadura na casa de Rinaldo Januário, 45, que não foi condenada pela Defesa Civil 
Rachadura na casa de Rinaldo Januário, 45, que não foi condenada pela Defesa Civil  - Raul Spinassé/Folhapress
João Pedro Pitombo Raul Spinassé
Salvador e Maceió

Há um ano, a terra tremeu em Maceió. Foram apenas 2,4 pontos na escala Richter, mas o suficiente para decretar o fim dos dias de tranquilidade e mudar drasticamente a rotina de cerca de 20 mil moradores do Pinheiro, bairro de classe média da capital alagoana.

Com afundamentos de terra, erosões, rachaduras, fendas e trincas em casas, prédios e até mesmo o asfalto das ruas, o bairro tornou-se o epicentro de um fenômeno sem causa definida que intriga geólogos. E começa a ganhar ares de cidade-fantasma com a decretação de estado de emergência e a desocupação de centenas de imóveis.

As rachaduras em imóveis do bairro vinham sendo constatadas há pelo menos uma década, mas a situação agravou-se acentuadamente desde as chuvas intensas e tremores registrados em março do ano passado.

O que eram pequenas fissuras transformaram-se em buracos e as rachaduras já se espalham por uma área de 2,2 milhões de metros quadrados (maior que o parque Ibirapuera, em São Paulo). 

O cenário mudou radicalmente a vida dos moradores do bairro, que passaram a conviver com simulados de evacuação de imóveis, cortes temporários de energia, fechamento de prédios públicos e estabelecimentos comerciais e até mesmo saques em residências que foram abandonadas.

Ao todo, 160 imóveis já foram condenados pela Defesa Civil nos últimos meses, mas há outros 330 que estão em áreas consideradas de altíssimo risco. Dentre os imóveis condenados está o apartamento que autônomo José Cícero da Silva, 62.

Ele conta que comprou o imóvel há dez anos e já havia detectado pequenas fissuras nas paredes. Desde o ano passado, contudo, as trincas cresceram, o que obrigou família a deixar o imóvel.

“É muito complicado. Batalhei a vida inteira no aluguel, quando consegui comprar um apartamento, acontece uma situação dessas”, afirma José Cícero. Ele e os vizinhos tinham reformado e pintado os edifícios do condomínio há poucos meses.

Agora, ele e a família voltaram a morar de aluguel, sacrificando todo o seu orçamento, além das economias: “O dinheiro que tinha guardado para quando a idade chegasse foi todo por água abaixo”.

Seu vizinho, o comerciante Rinaldo Januário, 45, vive uma situação parecida. Seu imóvel não foi condenado – as rachaduras atingiram apenas alguns cômodos e áreas externas. Mas ele se vê às voltas com a desvalorização do imóvel.

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