Descrição de chapéu Interior

Vídeo mostra PM quebrando braço de dirigente do PT em delegacia de Atibaia

Advogado diz que foi agredido por apoiadores de Bolsonaro no Carnaval e acabou sendo detido; PMs foram afastados

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Rio de Janeiro e São Paulo

O advogado Geovani Doratiotto, 29, foi agredido e teve o braço quebrado em uma ação de policiais dentro da delegacia central de Atibaia na tarde deste domingo (3). Gravadas por sua namorada, as imagens foram encaminhadas à Ouvidoria das Polícias do Estado de São Paulo.

Doratiotto é presidente do PT de Atibaia e usava uma camiseta “Lula livre” quando foi cercado por um grupo de opositores no centro da cidade. Ele foi agredido duas vezes e levado algemado para a delegacia. 

Segundo seu relato, tudo começou por volta das 15h, na folia dos Bonecões de Atibaia. "Estávamos fazendo uma campanha contra o assédio no Carnaval, quando um grupo começou a nos provocar, a mim especialmente, por estar com a camiseta do Lula livre", relata Geovani.

O advogado –que teve o úmero fraturado e perdeu temporariamente parte dos movimentos da mão esquerda– diz ter sido chamado de satanás por estar usando a camiseta.

"A princípio a gente não se importou com isso. Nosso objetivo lá não era fazer uma contraposição ao Bolsonaro. Mas, sim, alertar contra o assédio no Carnaval”, diz ele.

Por volta das 16h, após a panfletagem contra o assédio, o advogado se afastou dos amigos para ir ao banheiro acompanhado pela namorada. Na saída, ele foi abordado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Autora do vídeo, a namorada de Geovani, Phamella Dal Bello, relatou nas redes sociais o início das agressões sofridas pelo advogado.

Policial quebra parte do braço de Geovani que está retido
Policial quebra parte do braço de Geovani - Reprodução Internet

“Quando viramos para ir embora, um deles deu um murro no olho do Geovani e os outros pularam em cima dele, da maneira mais covarde, segurando o cabelo dele pressionando o rosto contra o chão, chutes na cabeça e nas costelas, dois seguravam e outros batiam”, publicou ela.

Geovani conta ter sido retirado do local por agentes da guarda municipal e orientado pela prefeitura a prestar queixa na delegacia —após atendimento na Santa Casa. Ele diz que, na chegada ao hospital, voltou a ser cercado e confrontado pelo mesmo grupo que o atacara.

“Levei um soco. Um PM me arrastou para dentro da recepção (do hospital)”.

Geovani foi, então, imobilizado com duas algemas e levado, em camburão, para a delegacia. Ao chegar ao DP, ele foi levado para a parte interna da delegacia, enquanto, segundo seu relato, os agressores ficaram do lado de fora.

Identificando-se com advogado, Geovani questionou o uso das algemas. Segundo ele, um policial respondeu que aquilo ainda era pouco.

Ao ouvir a resposta, a namorada de Geovani começou a gravar as cenas. Diante de policiais e funcionários da delegacia, o advogado, que erguia os braços, foi imobilizado por três homens, sendo dois PMs fardados.

Enquanto um o imobilizava, outro torceu o seu braço, provocando um estalo alto —que pode ser ouvido no vídeo.

O advogado foi encarcerado e conta que, enquanto queixava-se de dores no braço, ouvia dos policiais ameaças de que o outro também seria quebrado.

O advogado foi conduzido por policiais civis ao hospital. Mas,  no início da madrugada desta segunda-feira (4), os PMs que o agrediram foram ao hospital para levá-lo de volta à delegacia.

INVESTIGAÇÃO

Segundo Geovani, os PMs exigiram que os médicos apresentassem seus registros profissionais e reproduziram, em WhatsApp, imagens das radiografias. Por volta das 2h30 desta segunda, o advogado foi liberado mediante pagamento de fiança de R$ 1.000.

Além da Corregedoria da PM, a assessoria jurídica do PT acionou o Ministério Público. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) também foi procurada. 

“As imagens falam por si”, diz o advogado Cleiton Coutinho, um dos autores da representação.

O Ouvidor da Polícia, Benedito Mariano, disse que solicitou ao corregedor-geral da PM, coronel Marcelino Fernandes, que ele envie a investigação do caso para São Paulo.

Ainda segundo Mariano, a vítima foi convidada a depor na Ouvidoria na próxima quarta (6) e os PM envolvidos na ocorrência "foram afastados da atividade de rua até a conclusão das investigações"

"Além da agressão, vamos analisar a motivação da agressão. Se foi por motivo político é grave. Policiais não podem se envolver em questões políticas na atividade de rua. Vamos ouvir a vítima na quarta-feira", disse o ouvidor à Folha.

O PT notificou a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão e o Ministério Público de São Paulo pedindo providências. Em carta enviada ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o partido pede instauração de procedimento administrativo e inquérito policial, além da identificação dos policiais envolvidos.

OUTRO LADO

Em nota, a Polícia Militar informou que os procedimentos adotados na ocorrência em Atibaia serão "através de Inquérito Policial Militar."

Ainda segundo a PM, a imobilização Doratiotto no interior da delegacia ocorreu durante a apresentação de uma ocorrência em que o delegado de plantão solicitou ajuda dos PMs para condução do advogado à carceragem, "devido as suas ações de desacato, desobediência e resistência".

Ainda segunda a nota da PM, foi " necessária a aplicação da técnica de defesa pessoal para imobilizar (chave tática) e conduzir o indivíduo até a referida cela".

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo confirmou que os agentes envolvidos na ocorrência foram afastados das suas funções até a conclusão do IPM, "instaurado para apurar a conduta dos mesmos".

Diz, ainda, que o advogado foi levado à delegacia após agredir pessoas, na noite de domingo (3), em uma praça de Atibaia.

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