Base do Samu desativada por Covas vira escola de samba em SP

Contêineres ficaram abandonados; prefeitura diz que vai retirar sambistas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

As ambulâncias deram lugar a restos alegorias de escolas de samba em uma das 31 bases do Samu (Serviço Médico  de Atendimento de Urgência) fechadas na cidade de São Paulo. 

Os contêineres foram desativados pela gestão Bruno Covas (PSDB), com objetivo de economizar e reorganizar o sistema do Samu. As unidades modulares feitas especificamente para o serviço, com local para higienização de materiais e cobertura para as ambulâncias, foram trocadas por espaços improvisados em unidades de saúde —a mudança foi um dos catalisadores da paralisação de parte do serviço nesta semana.

Os espaços, que incluem os contêineres alugados pela prefeitura, ficaram abandonados e à mercê de invasões. Na rua Teodoro Bernardo do Nascimento, no Jardim Robru (extremo leste de SP), uma das bases desativadas passou a ser usada por integrantes de uma escola de samba.

Agora,  no terreno, mãos de tamanho gigante feitas de isopor jazem no chão, próximo de uma cabeça de mulher prateada. Um terreno ao lado, que já era usado pela escola de samba Mocidade Robruense, teve o muro quebrado. 

A base, que hoje está sob comando da escola, é locada pela prefeitura da empresa Novo Horizonte Jacarepaguá.  Depois da desativação da base, os novos ocupantes já até pintaram as paredes do contêiner de outra cor —um laranja brilhante desapareceu após ser caiado de amarelo.

O rapaz que tomava conta do terreno na quarta-feira (10) afirmou que, se não fosse eles, os "noias já tinham invadido". Ele que foi apenas orientado a ficar no local, mas passou o telefone para que a reportagem conversasse com um dos diretores responsáveis.

Sidney Santos, conhecido como Chumbinho, afirmou que o terreno sempre foi da escola e que a agremiação o havia cedido à prefeitura —informação negada pelos vizinhos. "Da parte boa ninguém fala, nós vamos dar 600 ovos de páscoa neste espaço para as crianças", diz ele que, além de ações sociais, pretende fazer ensaios no local. 

Além disso, o espaço extra será útil, uma vez que a agremiação subiu para o grupo especial de bairros. "Antes era só um carro alegórico. Agora, serão dois", diz Chumbinho. 

Apesar das vantagens, ele afirma que preferia que o Samu ficasse no local. "O problema é o governo que achou que iria economizar e tirou o espaço do pessoal que vai chegar sujo de sangue sem lugar para se limpar. Eles estão salvando vidas e vão ficar jogados". 

Moradores dos arredores desmentem a afirmação de que o espaço sempre foi ocupado pela escola. Na verdade, dizem, o que sempre houve ali era acúmulo de lixo e boatos de construção de equipamentos públicos. "Diziam que seria um posto de saúde ou base da prefeitura. Eles pediram para guardar essas coisas aí, mas não é terreno da escola de samba coisa nenhuma", diz a dona de casa Cândida Rosa, 64. 

Cândida afirma não ver nenhum ponto negativo na mudança das bases. Na verdade, achou até bom. "Uma vez eu passei mal, as vizinhas foram lá chamar e não quiseram ajudar. Eles não atendiam ninguém aqui". 

O Samu é acionado apenas pelo telefone 192, onde é feita uma triagem de casos por gravidade. Isso não impede que, entre a vizinhança, reine um certo rancor pelo fato de médicos tão próximos se recusarem a atendê-los. 

Vizinho da antiga base, o padeiro Agnaldo Silva, 45, não pensa duas vezes para dizer que preferia os médicos aos sambistas. "De vez em quando, o pessoal do Samu vinha aqui, comprava e também dava conselhos médicos", diz. "Já a escola, precisa ver se a vizinhança vai querer que fiquem ensaiando aí". 

No cadastro da prefeitura, a reportagem não conseguiu localizar o lote onde ficava a base. No croqui do quarteirão, diferentemente dos imóveis vizinhos, o espaço é descrito apenas como "área livre". 

Questionada sobre o assunto, a prefeitura afirmou que "a população da Vila Robru permanece assistida, uma vez que as equipes foram transferidas para o PS Júlio Tupi R. Serra, que fica a três minutos de distância".

A gestão Covas afirmou ainda que vai vistoriar o terreno e autuar os ocupantes, "solicitando a desocupação, pois não houve liberação, pelo município, para uso do equipamento".

De acordo com o município, as equipes e as ambulâncias estão sendo distribuídos em outros pontos, conforme plano de ampliação e descentralização das bases. 

Sobre a paralisação dos funcionários, a Secretaria Municipal da Saúde afirma que 20% dos profissionais escalados não compareceram ao trabalho. "  Nenhum caso classificado como prioridade (Echo), a mais grave, ficou sem atendimento", disse a gestão. 

O Sindsep (sindicato dos servidores municipais) estima que a paralisação atingiu metade dos funcionários do serviço. Em assembleia, os servidores decidiram retornar ao trabalho e fazer nova paralisação a partir do dia 16, por 72 horas. 

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.