Congestionamentos caíram em três anos em SP, indicam dados de app

Pressionada a se inserir no debate sobre mobilidade nas cidades, Uber abre dados

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Trânsito na marginal Tietê em dia de tempestade na Grande São Paulo, em março
Trânsito na marginal Tietê em dia de tempestade na Grande São Paulo, em março - Danilo Verpa - 11.mar.19/Folhapress
São Paulo

A Grande São Paulo registrou uma redução de congestionamentos nos últimos três anos. O cálculo foi feito pela Fipe a partir de dados de viagens do aplicativo Uber, disponibilizados pelo aplicativo em uma nova plataforma de consulta aberta ao público nesta terça-feira (24), a Uber Movement. 

A pesquisa analisou a diferença entre os tempos médios de deslocamento quando São Paulo está com pistas livres e quando está congestionada. Com isso, se obtém um índice de lentidão de carros na Grande São Paulo.

Em 2016, a variação entre o tempo das viagens com vias tranquilas e com trânsito foi de 39,6%. Já em 2018, o índice caiu para 31,4%, ou seja, os tempos de deslocamento durante o horário de pico se aproximaram dos aferidos quando não há congestionamento.

Esse índice representa o tempo perdido pelo paulistano que se locomove de carro no trânsito. Descobriu-se ainda que o motorista da região metropolitana tem seu tempo de deslocamento alongando em média em mais de 23 minutos por dia devido a congestionamentos. 

Segundo a Fipe, os dados encontrados condizem com a observação diária de trânsito feita pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). 

A análise dos dados também permitiu perceber o efeito de algumas ocorrências no trânsito da Grande São Paulo, como grandes chuvas e a greve dos caminhoneiros em 2018

Basta uma chuva fraca de 0,1 mm, por exemplo, para aumentar a lentidão no trânsito em 3,9 pontos percentuais. O colapso de um viaduto na marginal Pinheiros, em novembro de 2018, aumentou o índice de congestionamento em 5,1 pontos percentuais nos dias após o incidente. 

Por outro lado, a greve dos caminhoneiros derrubou em 9,4 pontos a lentidão na Grande São Paulo. A redução do trânsito nos dias de jogos do Brasil na última Copa do Mundo foi ainda mais significativa: 11,3 pontos. 

Para chegar a esses números, a pesquisa utilizou as médias de deslocamentos de diferentes viagens feitas de uma mesma região até um mesmo destino, por exemplo, viagens feitas entre o largo Treze, na zona sul, até a praça da Sé. A plataforma da Uber oferece apenas os dados médios, não sendo possível observar viagens específicas, para proteger as informações dos passageiros e dos motoristas. 

Para o pesquisador da Fipe e professor da USP Eduardo Haddad, a partir das viagens da Uber é possível aferir a lógica de deslocamento dos carros particulares. 

Para Pedro de Paula, da Iniciativa Bloomberg para Segurança Global no Trânsito, a divulgação dos dados da Uber é positiva para a discussão de mobilidade em São Paulo. Para ele, porém, é preciso evitar um foco excessivo apenas nos tempos de viagem, sob risco de não analisar outras questões como a segurança dessas viagens. “O melhor cenário de locomoção dos carros da Uber pela cidade não necessariamente é o melhor para o interesse público.

Os novos dados da Uber se somam a outras pesquisas que são feitas sobre a mobilidade na cidade. A principal delas é a Origem e Destino, feita pelo Metrô a cada dez anos e que em 2019 terá seus novos dados divulgados.

A CET faz ainda uma pesquisa anual sobre volume e tempos de deslocamento de veículos nas principais avenidas da cidade. Diariamente, a CET também analisa a quantidade de quilômetros de vias paradas na cidade. A companhia, porém, analisa apenas parte das ruas de São Paulo. 

O Waze, do Google, faz o acompanhamento do tamanho do congestionamento em São Paulo praticamente em tempo real. Os dados sobre deslocamento, porém, não são públicos. A empresa faz convênios com prefeituras para expor alguns dos dados.

A ferramenta Uber Movement foi criada para a análise de dados de mobilidade e para o desenvolvimento de políticas públicas. No caso de São Paulo, a ferramenta poderia fornecer dados sobre a importância de uma avenida para o trânsito local. Há, por exemplo, uma discussão sobre qual a real eficácia de manter o elevado João Goulart (o Minhocão), no centro da cidade, aberto aos carros

A plataforma já existe em outras cidades como Nova York, Londres e Cairo. São Paulo é a primeira cidade do Brasil com esses dados abertos.

A divulgação dos dados é um esforço da Uber de se inserir no debate sobre mobilidade nas grandes cidades.

Muitas prefeituras ao redor do mundo pressionam a empresa por uma maior abertura de seus dados para melhor entender o serviço e o impacto no trânsito local. Alguns estudos apontam a piora no trânsito na Califórnia ou em distritos de Nova York, após o surgimento de empresas do ramo. A empresa considera esses estudos ainda não conclusivos. 

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