Com alta infestação de Aedes, 2 em cada 10 cidades podem ter surtos de doenças

Dengue já tem 451 mil casos no ano; ministério diz que há epidemias localizadas no DF e em 7 estados, incluindo SP

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Brasília

Duas em cada dez cidades brasileiras estão com alta infestação de Aedes aegypti, situação que as coloca sob maior risco de registrarem surtos de doenças como dengue, zika e chikungunya. Outras quatro em cada dez estão em patamar de alerta para um possível aumento destas doenças neste ano.

Os dados são da mais recente edição do LirAa (Levantamento Rápido de Aedes aegypti), monitoramento realizado pelo Ministério da Saúde junto a municípios e que verifica o índice de infestação do mosquito em imóveis comerciais e residenciais.

O balanço foi feito entre janeiro e março deste ano. Ao todo, 5.214 municípios participaram do levantamento. 

Deste total, 994, o equivalente a 19% das cidades participantes, apresentaram alta infestação de Aedes, o que ocorre quando mais de 4% dos imóveis apresentam focos do mosquito. Trata-se de cidades com alto risco de surtos ou que já apresentam aumento de casos das doenças transmitidas pelo Aedes. Entre elas, está a capital de Mato Grosso, Cuiabá.

Outros 2.160 municípios, ou 41% do total, apresentaram índice de infestação entre 1% e 3,9%, que aponta alerta para um possível avanço da dengue, da zika e da chikungunya. Na contramão, 1.804 têm índices satisfatórios, com focos em menos de 1% dos imóveis.

Para o secretário de vigilância em saúde, Wanderson Oliveira, o resultado acompanha o aumento de casos de dengue registrado neste ano no país. Também indica a necessidade de aumentar ações de controle do mosquito transmissor para evitar novo avanço de casos ao longo do ano.

Balanço do Ministério da Saúde aponta que, desde janeiro até 13 de abril, foram registrados 451.685 casos de dengue, um aumento de 339% em relação ao mesmo período do ano passado, quando houve 102.681 registros. O número de mortes também cresceu: passou de 66 para 123.

Apesar do aumento, Oliveira nega que o país esteja sob epidemia. Atualmente, a taxa de incidência de dengue é de 216 casos por 100 mil habitantes, parâmetro considerado moderado.

O coordenador-geral dos programas nacionais de prevenção da malária e doenças transmitidas pelo Aedes, Rodrigo Said, diz que a incidência atual está dentro do esperado para a série histórica. Ele ressalta, porém, que pode haver ocorrência de epidemias localizadas em alguns estados e municípios.

Atualmente, sete estados e o Distrito Federal apresentam incidência em patamar que pode configurar epidemia —o que ocorre, entre outros fatores, quando há aumento de registros em relação a anos anteriores e proporção de casos acima de 300 a cada 100 mil habitantes. 

São eles: Tocantins (com 799 casos a cada 100 mil habitantes), Mato Grosso do Sul (697 casos a cada 100 mil habitantes), Goiás (631 casos a cada 100 mil habitantes), Minas Gerais (585), Acre (515), Espírito Santo (407), São Paulo (349) e Distrito Federal (303).

"Se levarmos em consideração o aumento de casos em relação à incidência, é possível falar em epidemia para essas localidades. Mas em algumas, não significa que seja o estado todo, mas regiões. É a situação em São Paulo, em que não posso falar em epidemia na região metropolitana."

Dados de boletim epidemiológico apontam que, em São Paulo, foram registrados até o momento 158.963 casos. No mesmo período de 2018, foram 5.796 registros —aumento de 2.649%. 

Segundo Said, diferentes fatores explicam o avanço da doença. "Desde o ano passado, as condições ambientais foram propícias ao aumento da densidade do vetor, com aumento das temperaturas em todo o país e regime de chuvas mais prolongado."

Outro motivo, diz, é a maior circulação no país do subtipo 2 do vírus que causa a doença –entre quatro possíveis. Nos últimos anos, o subtipo predominante foi o tipo 1, seguido do 4 em algumas regiões. Neste ano, dados de análises feitas na rede de saúde mostram que 85% dos casos de dengue registrados são do subtipo 2. 

Frequente em análises no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, esse subtipo circulou com maior força pela última vez em 2008, o que indica a possibilidade de haver pessoas suscetíveis ao vírus atualmente em circulação. 

A boa notícia é que, pelo histórico dos últimos anos em relação à dengue, o maior período de transmissão da doença segue até meados de maio. Em seguida, a tendência é de queda. 

O padrão, porém, varia conforme a região. "Na região Sudeste, o momento já se configura para uma queda. Mas a região Norte e Nordeste ainda são marcadas pelo período de chuvas. Isso pode favorecer novos casos até o mês de junho, e por isso temos que manter o acompanhamento."

AEDES NAS CAPITAIS

Além de Cuiabá, em situação de risco para surtos, 16 capitais apresentaram, no levantamento, parâmetros de infestação de Aedes que indicam alerta para o aumento de casos das doenças associadas ao mosquito.

São elas: Fortaleza, Porto Velho, Palmas, Salvador, Teresina, Recife, Belo Horizonte, Campo Grande, Vitória, São Luís, Belém, Macapá, Manaus, Maceió, Aracaju e Goiânia.

Em contrapartida, cinco estão com índice satisfatório: Boa Vista, João Pessoa, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

As cidades de Natal, Porto Alegre e Curitiba adotaram outro modelo para análise, o que dificulta a comparação. Já Florianópolis e Rio Branco não enviaram informações.

Dados do levantamento também apontam o armazenamento de água no nível do solo, como em tonéis e barris, como o principal tipo de criadouro de Aedes encontrado no país neste ano.

Em seguida, estão depósitos como vasos e recipientes com água e depósitos encontrados em lixo, como plásticos, garrafas PET, latas, sucatas e entulhos de construção.

ZIKA E CHIKUNGUNYA

Enquanto a dengue avança no país, dados do Ministério da Saúde apontam queda ou números similares de zika e chikungunya neste ano no país em relação ao mesmo período do ano passado.

De janeiro a abril, foram registrados 3.085 casos de zika, padrão similar a 2018, quando houve 3.001 casos na mesma época. Destes, 20% ocorreram no Tocantins.

Também foram registrados 24.120 casos de chikungunya, o que indica queda de 36% em relação a 2018, quando foram registrados 37.874 casos.

Identificada oficialmente no país em 2014, a doença ainda ocorre em áreas localizadas, diferentemente da dengue, que tem dispersão nacional. Neste ano, do total de casos, 57% ocorreram no Rio de Janeiro, sobretudo em cidades do norte do estado. 

A maior parte do estado, no entanto, registrou índice satisfatório ou de alerta no último Liraa --o que indica que há outros fatores que devem ser considerados, segundo o ministério. 

"Apesar de o índice estar satisfatório, há presença do vetor, com vírus novo para a região, onde a população ainda não tinha proteção específica [por não ter registrado casos]", afirma Rodrigo Said.

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