Guarda de igreja e pintura artesanal de ovos mantêm tradição no Paraná

Costumes chegaram ao estado com imigrantes ucranianos, poloneses, alemães e italianos

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Curitiba

Descendentes de europeus preservam tradições milenares da Páscoa no Paraná. No estado que abrigou imigrantes ucranianos, poloneses, alemães e italianos, é comum se deparar com costumes como bênção de alimentos, pintura artesanal de ovos e guarda do sudário (pano mortuário) de Cristo.

Ucranianos e poloneses têm como ritual benzer alimentos na véspera do domingo, servidos no café da manhã da Páscoa. Apesar de mantida pelas Igrejas Católicas de cada rito, a bênção tem origem pagã.

A Irmandade dos Cossacos em Prudentópolis (PR); tradição remonta à chegada dos primeiros imigrantes 
A Irmandade dos Cossacos em Prudentópolis (PR); tradição remonta à chegada dos primeiros imigrantes  - Divulgação

“Havia banquetes para celebrar a chegada da primavera nesses países. Estudiosos relacionam os alimentos a uma forma de oferta à deusa Lada, que garantiria o renascimento da natureza. Com o cristianismo, a ideia é preparar uma cesta com os alimentos dos quais o povo se absteve ao longo da Quaresma”, afirma o pesquisador de cultura ucraniana, Andreiv Choma.

Outra tradição da Ucrânia retomada por grupos do Paraná é a proteção de igrejas. Em Prudentópolis, a 200 km de Curitiba, homens trajados como guerreiros ucranianos, com espadas e lanças, se revezam na vigília do santo sudário da sexta ao sábado. 

O ritual remonta à primeira leva de ucranianos que chegou ao Brasil, no final do século 19. “No início, os guardas tinham como função a proteção mesmo, porque as igrejas ficavam abertas todos os dias. Mas os cossacos também relembram os vigilantes do túmulo de Cristo”, conta Choma.

Apesar de ser apenas uma memória, até hoje os membros da Irmandade dos Cossacos, como é chamado o grupo, precisam fazer um juramento de lealdade de não faltar no revezamento da guarda.

Os descendentes de ucranianos e também de poloneses no Paraná ainda trocam as chamadas pêssankas, ovos coloridos pintados à mão, um presente que simboliza a vida e o renascimento. 

Como aponta o historiador e descendente de poloneses Maurício Mazur, as pêssankas resumem o objetivo de vida nova da cultura eslava, já que os países sofreram muitas invasões. “A Páscoa sempre foi associada à libertação da dominação estrangeira, por isso tem um significado tão importante para esses povos.”

Também entre os alemães  há a cultura dos ovos pintados à mão. Como explica a descendente Layla Kreusch, após decorar as peças, elas são recheadas com doces, como amendoins, e penduradas em galhos secos, que demonstram a crucificação. “No domingo, a gente esconde os ovos e faz uma brincadeira de caça. É uma forma de reunir a família e manter a cultura”, conta.

Já pelos imigrantes italianos, comidas típicas, como a colomba pascal, viraram tradição entre os brasileiros. 

“É a festa religiosa mais importante para os italianos, porque é o primeiro domingo depois da Lua cheia da primavera, ou seja, tudo renasce”, diz o ex-presidente do Centro Cultural Ítalo-Brasileiro de Curitiba, Marlus Velloso.

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