Para Abílio Zuelli, o salão da choperia Pinguim, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, era como um palco. "Ele se sentia como se estivesse no show dele. Tinha prazer em trabalhar", conta seu filho Edmilson.
Só deixou o emprego de garçom após 44 anos de serviço, porque perdeu a visão. "O Pinguim era uma família para ele." Em cinco minutos de prosa, Abílio já sabia tudo da vida do cliente. Quem conversasse com ele e voltasse ao bar era recebido pelo nome, com um chope preparado ao seu gosto.
Bom de papo, foi ele quem inventou o boato de que o chope do Pinguim vinha direto dos canos da cervejaria Antartica, que tinha sede na cidade. "As pessoas perguntavam e ele dizia: 'Olha o cano lá'. E era um cano de esgoto", conta Edmilson.
Nem quando a empresa deixou Ribeirão Preto Abilio voltou atrás na história.
Espécie de relações públicas do bar, até apareceu num trecho da novela "O Rei do Gado", da Globo, filmada ali em 1996.
Se alguém se aproximasse pedindo um emprego no bar, Abílio arrumava. Nos anos 1970, trabalhou com um cumim que sonhava em ser médico. O rapaz estudava à noite e sempre chegava cansado.
Para que pudesse repousar um pouco, Abílio dizia aos chefes que tinha mandado o cumim resolver algum pepino na rua. Depois de se formar, abriu um laboratório e empregou um dos filhos de Abílio.
O garçom gostava de ouvir futebol pelo rádio. Fanático pelo Comercial, tomou gosto pelo esporte depois de ter trabalhado com o pai, dono de uma equipe, ainda criança. "Se você falasse em futebol com ele, tinha assunto para um dia inteiro", diz Edmilson.
Na tarde de sábado (13), disse que queria se deitar para descansar antes de assistir a um jogo e não se levantou mais. Morreu aos 89 anos em casa, nos braços do filho.
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