O frio do inverno na região do pampa gaúcho não impedia que Danúbio Gonçalves ficasse horas ao ar livre observando a paisagem para retratá-la.
O artista também permanecia muito tempo debaixo da terra, a dezenas de metros de profundidade, acompanhando os trabalhadores das minas de carvão para pintá-los. Para registrar o colorido de um festival de balonismo, voava de balão.
Ele assistia ao cruel ritual de matança de bois para a produção de charque nas estâncias do Rio Grande do Sul para produzir xilogravuras que mostravam as cenas dos animais que apanhavam na cabeça, tinham o rabo puxado e a língua cortada. A série "Xarqueadas" é uma das mais célebres de sua obra.
Sua arte está preservada em locais como o Museu de Arte Moderna (MAM), de São Paulo, e o Museu Nacional de Belas Artes, do Rio de Janeiro. Sua casa em Porto Alegre, onde funcionava seu antigo ateliê, foi tombada. Mas, sem investimento para a criação de um espaço cultural, foi depredada e obras foram roubadas.
Foi na capital fluminense que estudou, ainda garoto, com Cândido Portinari. Natural de Bagé, na fronteira com o Uruguai, contrariou a vontade do pai que queria que o filho fosse médico e decidiu que seria artista. A pressão para que seguisse uma carreira convencional era grande. Danúbio era trineto de Bento Gonçalves, o líder da Revolução Farroupilha.
Na sua cidade natal, criou com os amigos Glauco Rodrigues (1929-2004), Glênio Bianchetti (1928-2014) e Carlos Scliar (1920-2001) o Grupo de Bagé, que divulgava a técnica da gravura, considerada por eles como uma forma de ampliar o acesso a arte, por viabilizar a reprodução das obras.
Em Porto Alegre, foi professor por 30 anos do Atelier Livre, da prefeitura, e lecionou no Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Morreu aos 94 anos no último dia 21, enquanto dormia, em uma casa geriátrica na capital gaúcha. O artista deixa três filhos e três netos.
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