Cati Cavano Ootuca tinha fama de revolucionária na família tradicional de descendentes de japoneses. Apesar do casamento arranjado, não ficou presa ao papel de dona de casa.
"As mulheres da família, como minha mãe, sempre acompanhavam os maridos. A tia Cati era o contrário, o marido é que a seguia", conta, rindo, a sobrinha Devani Kawano, 59.
Cati escolhia o que plantar, o marido concordava. Se ela não ia para a roça, ele também faltava. Quando decidiu se mudar para São Paulo, para que os filhos pudessem fazer faculdade, ele foi atrás.
Cati nasceu em São Sebastião do Paraíso (MG), em agosto de 1926. Mas só foi registrada no ano seguinte, em maio, porque o cartório ficava longe demais. Por isso, ela comemorava duas datas: "Hoje é o aniversário de registro, hoje é o de nascimento", dizia. O nome foi abrasileirado: era Kawano Otsuka, virou Cavano Ootuca.
Seus pais vieram do Japão para o Brasil de navio, em 1913. Trabalharam nas lavouras de café até comprar um terreno no interior de SP, em Pontalinda. Ali a família plantava milho, algodão, e arrendava parte da terra.
Cati estudou só até a quarta série, mas gostava de ler e era boa de matemática. Já adulta, dava aula para as crianças que viviam na fazenda do pai.
Em São Paulo, Cati se estabeleceu com a família no Jaraguá (zona norte), onde costumava jogar bola e brincar de queimado com os meninos do bairro, o que a tornou famosa por ali. Já mais velha, às vezes se perdia na rua, esquecia onde estava. Mas sempre havia algum vizinho conhecido para levá-la de volta para casa.
Morreu aos 92 anos, em 21 de março, de falência de múltiplos órgãos. Deixou dois filhos, cinco netos, três bisnetos e uma vizinhança saudosa. "Mandaram rezar uma missa de sétimo dia no bairro em sua homenagem", conta a sobrinha, emocionada. "Me tocou muito".
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