Descrição de chapéu
Ilona Szabó de Carvalho e Melina Risso

População dá sinais de ser mais responsável do que governantes

Ao se posicionar sobre temas como armas, brasileiros mostram que o caminho para reduzir a violência não passa por incentivá-la

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Pesquisa do Datafolha divulgada nesta quinta-feira (11) mostra que há esperança para a segurança pública no Brasil. Apesar da intensa retórica belicista dos novos governantes, a população mostra que sabe que este não é o caminho para resolver o grave problema da segurança no qual estamos imersos.

Ao se posicionar sobre temas como armas e ações policiais, a população dá sinais de ser mais responsável do que os políticos têm demonstrado ser. Mostra que o caminho para reduzir a violência não passa por incentivá-la.

De acordo com a pesquisa, sete em cada dez brasileiros acreditam que a sociedade não fica mais segura com pessoas armadas para se defender. Mesmo a flexibilização do estatuto do desarmamento sendo uma promessa de campanha na qual o presidente se apega, 73% das pessoas afirmam que nunca pensaram em ter uma arma de fogo para se defender da violência.

E, apesar das mudanças nas regras para a posse, 79% afirmam que não pretendem adquirir uma arma. Cai por terra o argumento usado pelos defensores das armas de que a população quer se armar.

Em relação a um dos pontos mais polêmicos do pacote anticrime apresentado pelo Ministro Sérgio Moro, a mudança na legítima defesa, a população também manda um recado claro aos governantes: 81% das pessoas dizem que a polícia não pode ter liberdade para atirar em suspeitos porque pode atingir inocentes, e 79% afirmam que policiais que matam devem ser investigados.

O polêmico "escusável medo, surpresa ou violenta emoção" é amplamente rechaçado, 82% da população acredita que alguém que atire em outra pessoa por estar muito nervoso deve ser punido.

Fica claro que quem sofre as consequências cotidianas da violência entende que o caminho para virar o jogo passa por outras medidas. A força bruta, o desrespeito às leis e as exceções não apenas agravam o problema como colocam em xeque a própria democracia.

Ter uma polícia na qual podemos confiar, que é valorizada, muito bem preparada, age dentro da lei com inteligência e produz resultados positivos é o primeiro passo para um verdadeiro Estado Democrático de Direito.

Ao se posicionar contra propostas cujos "efeitos colaterais" são mais vidas perdidas e mais sofrimento, os entrevistados pela pesquisa Datafolha, que representam a população brasileira, indicam que as autoridades precisam rever suas apostas.

O enfoque em soluções supostamente mágicas precisa ser trocado pela adoção de políticas públicas responsáveis, baseadas nas evidências sobre o que de fato funciona. A boa notícia é que há amplo consenso entre policiais, gestores e especialistas sobre quais são as prioridades.

Há luz no fim do túnel. A campanha eleitoral acabou, os cem dias se passaram e a sociedade está desperta. É hora de reabrirmos os espaços de diálogo e de participação social propositiva e de cobrarmos de nossos governantes a implementação de ações que se traduzam em resultados positivos concretos.

Pela nossa segurança, pelas nossas instituições e pela nossa democracia, sigamos apoiando o que é certo e criticando o que está errado. Atalhos não existem, mas soluções sim.

Ilona Szabó de Carvalho

Empreendedora cívica, mestre em estudos internacionais pela Universidade de Uppsala (Suécia). É autora de “A Defesa do Espaço Cívico”

Melina Risso

Diretora-executiva do Instituto Igarapé, doutora em administração pública e coautora do livro "Segurança Pública para Virar o Jogo"

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.