Relator do pacote anticrime de Moro diz que há indícios de envolvimento de facção em ameaças de morte

Projeto nas mãos do senador Marcos do Val prevê confisco de bens de criminosos; ameaças também falam em estupro contra irmã dele

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São Paulo

Relator do pacote anticrime do ministro da Justiça, Sergio Moro, o senador Marcos do Val (PPS-ES) disse à reportagem que investigações da Polícia Federal apontam indícios de participação da facção criminosa PCC nas ameaças de morte que ele e sua família têm recebido. 

O parlamentar esteve na semana passada na PF, em Brasília, para saber das investigações a respeito das ameaças que sofreu. Segundo ele, a informação do delegado responsável pelo caso é que há indicativo de envolvimento da facção. Haveria, diz, um perfil de ação do PCC nas ameaças e que a facção estaria irritada com determinadas partes do texto do pacote anticrime. 

“É a sinalização que recebi. Esse pacote intimida o PCC porque prevê o confisco de bens das organizações criminosas, o recrudescimento de pena com os líderes nas prisões de segurança máxima e facilita as investigações porque redefine o conceito de facções”, afirmou do Val. Por questões de segurança, disse não poder informar o nome do delegado.

A ideia do pacote anticrime é que esteja especificado em lei que o PCC é uma organização criminosa. No texto do projeto, a facção é nominalmente apontada como um grupo que usa da violência e da força de intimidação para adquirir o controle sobre a atividade criminal. O Comando Vermelho também é citado no texto. 

Do Val disse que não pode especificar como as autoridades têm chegado às correlações com a facção para não atrapalhar as investigações, mas que há participação da inteligência da PF. 

O senador Marcos do Val (PPS-ES) no plenário do Senado, em março
O senador Marcos do Val (PPS-ES) no plenário do Senado, em março - Roque de Sá/Agência Senado

O senador recebeu quatro ameaças pelo email de seu gabinete, da assessoria de imprensa do Senado e do Ministério da Justiça. A última delas chegou nesta quinta-feira (18). A reportagem teve acesso a uma delas: “Se o pacote anticrime do Sr. Sergio Moro for aprovado, pode dar adeus para a sua família”.

A mensagem também contém ameaças de sequestro, estupro, tortura e esquartejamento contra a irmã de do Val. “Acredita Marcos, tenho pessoas no meu grupo que sabem cortar um corpo humano como ninguém. Parecem até mágicos”, diz. A irmã do senador se mudou às pressas do Espírito Santo, onde morava.

Uma das ameaças cita ainda a Polícia Legislativa: “Você acha que esses parasitas públicos vão morrer no seu lugar ou no de algum familiar seu?”. A Secretaria de Polícia do Senado disse que está tomando as providências cabíveis.

Já a Casa Militar do Espírito Santo, estado pelo qual Marcos do Val se elegeu, disse que a pedido da Polícia do Senado disponibilizou efetivo para realizar a escolta do senador e que, não detalhará o esquema por segurança.

Procurada, a Polícia Federal informou que não detalha andamentos das investigações e disse não ter recebido pedido de segurança para ele. Segundo Do Val, no entanto, “um aparato grande” vem o protegendo.

A ameaça recebida nesta quinta questiona a segurança: "Escolta policial é eficaz contra atiradores de elite? Pois é isso que vamos usar contra Vossa Excelência e sua família caso o pacote anticrime seja votado". "Nada vai salvar você e sua família. A PF já disse que não há como nos prender ou sequer identificar. Somos profissionais, e não amadores", diz a mensagem, com uma despedida em alemão.

Enquanto isso, uma audiência pública para debater o projeto ocorrerá no Senado em maio. Os líderes dos partidos receberão uma apresentação antecipada.

O PL 1.864/2019 do qual Marcos do Val é relator trata de alterações nos códigos Penal e de Processo Penal. O projeto é idêntico ao apresentado por Moro à Câmara. Sua tramitação no Senado busca acelerar a discussão do tema no Congresso, uma vez que os deputados têm priorizado a reforma da Previdência.

“Minha família pediu para que eu deixasse a relatoria, mas não vou sair. Preciso agora que os parlamentares votem. Não posso colocar minha vida em risco sem propósito”, afirma do Val.

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