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Capoeirista brasileiro morre após ser atacado por grupo em Londres

Iderval Silva, 46, foi espancado ao se aproximar de jovens que teriam tentado furtar sua moto

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Londres | BBC News Brasil

Um capoeirista brasileiro que vivia em Londres foi atacado por um grupo de homens no sábado (25), não resistiu à agressão e morreu nesta terça-feira (28). 

Segundo testemunhas, Iderval Silva, 46, foi espancado ao se aproximar de um grupo que aparentemente tentava furtar sua moto. Ele dava aulas de capoeira e, para complementar a renda, havia começado a fazer entregas de comida pelo aplicativo Uber

Em nota, a polícia Metropolitana de Londres afirmou que o grupo fugiu do local antes de a polícia chegar, às 16h32 daquele sábado. A moto não foi levada. Um jovem de 16 anos foi apreendido próximo ao local sob suspeita de ser um dos agressores. 

"Era um grupo de rapazes jovens, alguns em bicicletas, que estavam circulando na área antes do ocorrido", disse em nota o investigador Mark Cranwell. "Há uma investigação urgente em andamento e estamos determinados a encontrar os responsáveis." 

A vítima, conhecida na capoeira como contramestre Bugrão, foi levado para o hospital após a agressão. Ele deixa um filho de 24 anos, que mora em Portugal e que viajou a Londres após o ataque. 

Natural de Presidente Prudente, interior de São Paulo, Iderval é descrito por amigos como uma pessoa pacífica e tranquila, que gostava de ensinar capoeira e era querido pelos alunos. ​

Iderval Silva morreu após ser atacado por grupo em Londres
Iderval Silva morreu após ser atacado por grupo em Londres - Arquivo pessoal

Em 2000, emigrou para Portugal. Sua mulher e seu filho se mudaram para o país um ano depois. Ali, ele trabalhou como segurança e deu aulas de capoeira e forró. Viajava frequentemente pela Europa, convidado para dar aulas de capoeira em países como Espanha, Alemanha e Finlândia. 

"Ele era uma pessoa muito calma, pacífica, muito responsável com horários, superatencioso com os alunos de capoeira e ajudava em projetos sociais", diz sua ex-mulher, a esteticista Luciana Pereira Vicente, de 44 anos, que mora em Portugal. 

Há cerca de dois anos, Iderval se mudou para o Reino Unido com a intenção de ampliar seu projeto de capoeira. Morou durante um período na cidade King's Lynn, a 170 km de Londres e em março se mudou para a capital. Vivia em Croydon, subúrbio no sul de Londres. 

Iderval e o amigo André Luiz Maciel, também capoeirista, pretendiam montar no Reino Unido uma associação de capoeira a que os dois tinham em Portugal. "Tivemos bastante dificuldades em ter espaço. Viemos com essa intenção. Pensamos: não tem programas para adolescentes na rua, não tem basquete, vôlei, judô. A ideia era oferecer a capoeira." 

Ele diz que os dois, por não terem "sucesso financeiro ainda" e para "pagar as contas", começaram a entregar comida via Uber. Um grupo de brasileiros, muitos deles entregadores de Uber e outros aplicativos em Londres, fez um protesto com buzinaços após o ataque. 

Maciel afirma que testemunhou o momento do ataque. "Alguém subiu na moto dele e eu pensei que fosse algum amigo nosso. Em questão de segundos, teve uma luta. No meio da luta estavam os meninos do bairro", afirma. Ele diz que eles estavam em frente a um café em Battersea, bairro no sul de Londres, e que "congelou". "Não consegui reagir." Maciel não sabe dizer quantas pessoas atacaram seu amigo. 

O cineasta brasileiro Fred Alves, 41, que mora na Holanda e viaja registrando grupos que divulgam a cultura brasileira na Europa, conta uma história que diz ilustrar como Iderval era pacífico. "Em julho do ano passado, estávamos em Frankfurt, quando um rapaz bateu na minha câmera no metrô. Ele me disse: 'Acalme-se, não vale brigar, isso não vale de nada'." 

Para o assistente operacional e instrutor de capoeira português André Dias, 31, que o conheceu em um grupo de capoeira em Portugal, ele foi uma pessoa "que deu muito apoio psicológico e incentivo" aos alunos de capoeira, "ensinou muito do sentido da arte e da cultura" e "era uma pessoa muito positiva e serena". "Temos muito o que agradecer a ele." 

"Ele era um educador, um amigo, um cara que não gostava de nada negativo, super da paz, um pai para os alunos", afirma Maciel. "Estou superchocado, já não tenho mais o que chorar."

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