Corte de verba interrompe serviço de monitoramento de chuva e alagamento em SP

Radares foram comprados pela USP, mas empresa bancava trabalho de técnico

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Luísa Pessoa
São Paulo | UOL

Levar ou não levar o guarda-chuva? Essa é uma pergunta que todo mundo já se fez antes de sair de casa e ver o céu encoberto. Desde abril, no entanto, os moradores da cidade de São Paulo deixaram de contar com o site Chuva Online para tomar essa decisão. A página, que trazia informações detalhadas e em tempo real sobre a chuva no município, deixou de ser atualizada por falta de suporte financeiro.

Os radares foram bancados pela USP (Universidade de São Paulo) e pelo governo do Estado de São Paulo, mas, no dia a dia, era necessário que um técnico monitorasse e controlasse a qualidade dos dados coletados. Essa verba, de aproximadamente R$ 10 mil/mês, vinha desde 2014 da empresa Climatempo, que agora decidiu cortar o repasse.

Entre os principais afetados não estão só os mais de cinco mil paulistanos que entravam no site em dias de chuva (de 2018 a março de 2019, a plataforma teve 4,1 milhões de acessos), mas também o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), o CPTEC/Inpe (Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos/Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo), a Infraero/SP (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) e a Defesa Civil do Estado de São Paulo.

Esta última, por exemplo, tinha acesso a uma plataforma exclusiva e ainda mais detalhada que monitorava e informava o órgão sobre as regiões da cidade mais propensas a inundações e alagamentos.

Capitaneado pelo professor Carlos Augusto Morales, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), o Chuva Online fazia seu monitoramento a partir de dois radares, um instalado no campus do Butantã e outro no da USP Leste.

Esses equipamentos têm a vantagem de ser não só mais precisos, como também mais baratos e compactos que modelos tradicionais. Para se ter uma ideia, um modelo tradicional custa de US$ 1,5 milhão a US$ 2 milhões, pesa de 700-1.500 kg e demanda a construção de uma torre, gerando mais custos de infraestrutura. Já os do Chuva Online custam de US$ 80 mil a US$ 110 mil e pesam somente 70 quilos.

Além disso, por estarem mais próximos do centro urbano do que o radar convencional hoje em operação para a cidade (da DAEE, localizado a 65 km da capital), também oferecem dados mais precisos.

"O sistema funciona de forma automática, com os dados [do monitoramento da chuva] sendo enviados diretamente ao nosso servidor. No entanto, precisa haver um controle de qualidade das informações que estão chegando, para ver se não tem nenhum problema e, se houver, solucionar", explica Morales. "Se eu deixar o radar funcionando sem essa supervisão e der um problema, o projeto cai em descrédito."

Segundo Patrícia Madeira, sócia-diretora da Climatempo, o fim da parceria não está relacionado à qualidade dos dados fornecidos pelo Chuva Online, mas a uma mudança de estratégia após a compra de 51% da Climatempo pela empresa norueguesa StormGeo.

Procurada, a Defesa Civil do Estado de São Paulo disse que "está ciente quanto ao término do Projeto Chuva Online e já iniciou tratativas junto à Universidade de São Paulo para buscar soluções para a continuidade do projeto". Mas, por enquanto, não há qualquer previsão para que o serviço volte a funcionar.

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