Justiça manda ex-deputado Carli Filho cumprir pena com tornozeleira eletrônica

Condenado pela morte de dois homens em um acidente de trânsito, ele se entregou na última terça (28) no Paraná

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Curitiba

Três dias após se entregar à Justiça para cumprir pena de sete anos e quatro meses, o ex-deputado estadual paranaense Luiz Fernando Ribas Carli Filho será liberado mediante monitoramento por tornozeleira eletrônica.

A decisão desta sexta-feira (31) é da Justiça Estadual do Paraná, que determinou ainda que ele não deve deixar a cidade de Guarapuava (região centro-sul), onde vive, e permanecer em casa entre 21h e 6h.

Carli foi condenado em segunda instância pelo crime de duplo homicídio com dolo eventual pelas mortes de Gilmar Souza Yared e Carlos Murilo de Almeida em um acidente de trânsito, em Curitiba, em 2009.

Passaram-se dez anos entre o crime e o início de cumprimento da pena. Ele se entregou à Justiça na terça-feira (28) e ficou em uma cela especial na Penitenciária Industrial de Guarapuava. A soltura do político deve ocorrer a qualquer momento.​

Na decisão, a juíza Liliane Breitwisser apontou que não há estabelecimentos penitenciários adequados para cumprimento de pena em regime semiaberto —com menos de oito anos de condenação— na região.

O ex-deputado estadual do Paraná Luiz Fernando Ribas Carli Filho deixa prédio do Tribunal de Justica em Curitiba (PR), em 2018
O ex-deputado estadual do Paraná Luiz Fernando Ribas Carli Filho deixa prédio do Tribunal de Justica em Curitiba (PR), em 2018 - Geraldo Bubniak - 28.fev.18/Agência O Globo

Mas, para ter acesso a tal condição, o ex-parlamentar deve comprovar vínculo de trabalho na cidade. Ele também deve comparecer ao escritório social da comarca no prazo de dez dias para que seja elaborado seu plano de atendimento.

Carli Filho foi levado a júri popular em fevereiro de 2018. Segundo o Ministério Público do Paraná, ele estava em alta velocidade e tinha bebido no momento da colisão com o carro em que estavam os dois jovens. Ele também estava com a carteira de motorista cassada.

Os jurados o consideraram culpado e foi determinada a pena de nove anos e quatro meses. Porém, em recurso ao Tribunal de Justiça do Paraná, a condenação acabou diminuída.

A decisão pela execução imediata da pena foi do juiz substituto Thiago Flôres Carvalho, do último dia 24. Ele justificou a ordem com o entendimento do Supremo Tribunal Federal de que os condenados em segunda instância devem partir para a execução imediata da pena.

O magistrado destacou a longa duração do processo até a condenação. Foram nove anos até que Carli Filho fosse à júri popular e mais um ano de recursos. “Nem a dinâmica do processo, com toda a sua complexidade, é capaz de justificar o atraso”, apontou.

Ele destacou que, até o julgamento em plenário, a defesa interpôs 40 medidas, “boa parte delas destinada a protelar a resolução do feito”. O Ministério Público e assistente de acusação se valeram de oito recursos.

A mãe de Gilmar, um dos jovens mortos no acidente, Christiane Yared, está no segundo mandato como deputada federal pelo Paraná, e tem como uma das bandeiras a questão do trânsito.

“Após 10 anos de muita luta para que a justiça fosse feita, vi hoje a sentença do assassino de meu filho e seu amigo sair. A leitura para um país que tem suas calçadas, ruas, avenidas e rodovias lavadas em sangue por indivíduos infratores de leis, é a que assassinos de trânsito serão punidos”, comentou sobre a decisão pelo cumprimento da pena.

Relembre o caso

O acidente que matou Gilmar Rafael Yared, 26, e Carlos Murilo de Almeida, 20, ocorreu na madrugada do dia 7 de maio de 2009, no bairro do Mossunguê. Os amigos morreram na hora e o ex-deputado ficou internado por um mês. O carro dos jovens foi completamente destruído.

Exame etílico do IML (Instituto Médico Legal) indicou que Carli dirigia embriagado. Segundo o laudo, havia em seu sangue cerca de oito decigramas de álcool por litro, quatro vezes o limite permitido, de dois decigramas. No julgamento, o ex-parlamentar voltou a admitir que havia bebido.

Laudo do Instituto de Criminalística do Estado constatou que o ex-deputado dirigia a uma velocidade entre 167 e 173 km/h. O limite da via é de 60 km/h. Com 130 pontos na carteira de habilitação, 110 acima do permitido, Carli não poderia ter assumido o volante.

Questionado pelo juiz, o ex-deputado afirmou que não tinha conhecimento de que sua carteira havia sido suspensa. Ele também disse que o alto número de infrações se justificaria porque seu carro teria sido utilizado para todos os deslocamentos de seu gabinete e conduzido por colaboradores.

A perícia indicou, ainda, que o veículo "decolou" por ao menos dez metros antes de bater no automóvel das vítimas. Segundo a investigação, o carro do deputado vinha em alta velocidade quando passou sobre uma inclinação, perdeu o contato com o solo e voou em direção ao teto do automóvel onde estavam os dois jovens.

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