"Se você não sabe por onde começar, comece por uma bola." A frase foi ouvida por mais de 100 mil curitibanos que foram alunos de José Carlos da Silva Ribeiro, o professor Jos. Lecionou matemática por 38 anos. Na maior parte do tempo, em cursinhos pré-vestibulares. É das aulas de trigonometria que vem seu bordão.
Formou-se em engenharia civil, mas logo desistiu e foi atuar na sala de aula. Resolveu seguir a carreira do pai, também professor de matemática e um dos fundadores da rede Dom Bosco. "Ele era do tablado", lembra a amiga Gláucia Lopes, que foi aluna e colega de trabalho dele.
Era o tipo professor-pai. Exigia e brigava, mas confortava depois. Com o jeito alegre, inspirou os dois filhos mais velhos, Fernando e Heloísa, a continuar o legado dentro das escolas. "É algo que está no sangue", diz Fernando.
Ajudava estudantes que não podiam pagar o lanche, a mensalidade e até o táxi para visitar a avó na UTI. Mas não gostava dos holofotes.
Jos —ou Cacalo para os amigos— era fã de videogames. Por influência de um jogo, aprendeu a tocar bateria aos 53 anos. Virou um de seus hobbies, que exercitou principalmente durante o tratamento contra um linfoma.
Morreu por complicações de um transplante de fígado. Desconfiam que o tumor no órgão foi gerado por uma hepatite C desenvolvida décadas depois de uma transfusão de sangue feita em 1974, quando sofreu um acidente de carro que matou seu irmão.
Deixa quatro filhos, dois netos (e mais uma a caminho), uma irmã, dezenas de colegas de profissão e milhares de alunos que, quando não sabem por onde começar, começam por uma bola.
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