Decididos a motivar seus alunos, os docentes de enfermagem da UniFavip, em Caruaru (PE), citavam sempre o mesmo exemplo. “Olhem a trajetória acadêmica do professor Gleidson. Vejam aonde ele chegou, mesmo tão novo!”, diziam.
É que aos 34 anos o pernambucano Gleidson Monteiro dos Santos já havia concluído o mestrado, conquistado uma vaga como professor universitário e assumido a coordenação de estágios do curso.
Diante de alunos, não costumava arrancar risadas. “Cobrava bastante, mas com doçura”, relembra a enfermeira Lenora Morais, 32, que fazia parte de turma que ficou famosa na universidade pelas frequentes brigas entre alunos.
Na primeira aula ministrada a Lenora e os colegas, Gleidson fez uma proposta: “Vamos reverter essa situação”. Para isso, organizou trabalhos em grupo e obrigava que os alunos se misturassem a cada nova atividade. Dizia que ninguém era obrigado a gostar do outro, mas explicava que, no mercado de trabalho, é preciso colocar a relação profissional acima dos julgamentos pessoais.
Achava que o odiariam pela atitude, mas se enganou: terminou o semestre homenageado pela turma que passou a conviver em harmonia.
O que mais despertava interesse entre os estudantes eram as histórias de resgates da época em que o enfermeiro foi socorrista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), entre 2007 e 2011. Em sala de aula, dezenas delas eram contadas pelo professor. Quando foi vítima de afogamento, na Sexta-Feira Santa, não conseguiu esperar o socorro chegar à praia de Merepe, em Porto de Galinhas.
Os amigos que o acompanhavam no feriadão de Páscoa ficaram sem o membro mais empolgado para organizar as viagens e idas a festas. “Era o que mais convidava para sair. A maioria das ideias partia dele”, lembra Gidelson Gabriel Gomes, 36, amigo de mais de uma década.
Gleidson deixa a mãe —ou “mainha”, como a chamava—, o pai e um irmão.
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