Polícia erra e usa RG roubado para identificar mulher morta na cracolândia

Equívoco se estendeu a boletim de ocorrência e registro em hospital; vítima foi encontrada com documentos de outra pessoa no bolso

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São Paulo

A Polícia Militar identificou de forma errada em boletim de ocorrência a mulher baleada durante confronto na cracolândia, na região central de São Paulo, na tarde de quinta-feira (9). 

A jovem atingida morreu na Santa Casa de São Paulo, também no centro da cidade, por volta das 20h30 de quinta.

De acordo com registros da Santa Casa e no boletim de ocorrência registrado, ela foi identificada como Gabriela Colares Gomes de Lima, uma personal trainer de 27 anos que foi assaltada próximo à estação Pedro II do metrô, na região da cracolândia, um dia antes. 

Seu registro profissional foi encontrado nos pertences da mulher baleada, entre RGs de outras pessoas roubados. 


Gabriela só descobriu o erro depois que o hospital ligou para sua mãe informando sobre a internação da mulher atingida na cracolândia. "Minha mãe perguntou as características da pessoa e não batiam com as minhas. Ela sabia que eu tinha sido assaltada e que tinham levado meus documentos", diz Gabriela. 

Ao tentar reaver seus documentos, ela contou que foi à delegacia e só lá descobriu que os policiais tinham identificado a vítima do tiroteio na cracolândia com seu nome. "Foi um erro grotesco", diz ela, que comunicou o roubo dos documentos por meio de um boletim de ocorrência online. 

"Policiais disseram que eu não podia estar viva e morta ao mesmo tempo, e mudaram o registro da morte da mulher", conta. "Não temos nenhuma característica física em comum, eles não checaram nada", diz ela, que é loira e a mulher baleada, parda. 

Sobre a primeira identificação errada da vítima, o delegado responsável pela investigação, Milton Coccaro, disse que foi feita com base em carteira de identificação encontrada na bolsa da vítima. 

"Ela estava portando nas vestes, no bolso da calça, um documento em nome de uma moça, mas que, na verdade, era roubado", disse. "Houve uma notícia equivocada por parte da GCM, e pela assistência social do hospital, e o registro foi feito com base nisso", completou o delegado. 

Gabriela teve os documentos roubados quando voltava para casa na noite de quarta (8). Ela lembra que foi abordada por dois homens armados com facas que pediram seu celular. "Eu disse que não tinha e eles me pediram minha mochila, onde estavam algumas roupas e meus documentos."

Nenhum parente ou amigo se apresentou até agora para identificar e liberar o corpo da jovem morta na quinta, que é então tratada como indigente, segundo a Polícia Civil. Nesses casos, o corpo é enterrado sem identificação após passar três dias no IML (Instituto Médico Legal) sem ser reclamado. 

Assim, a identificação deverá se feita pelo sistema eletrônico de pesquisa da Polícia Civil, o IIRGD (Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt). Tal banco de dados só tem informações de pessoas do estado de São Paulo.

A vítima era conhecida como Aline na cracolândia, jovem usuária de drogas que frequentava o local há tempos. 

Ela foi atingida na região da têmpora durante confronto entre usuários de drogas e agentes da GCM (Guarda Civil Metropolitana) que terminou em tiroteio. 

Segundo usuários que testemunharam a confusão, tudo começou quando um homem foi impedido pela GCM de entrar no fluxo portando um copo e um prato. O homem teria jogado o prato no agente, que revidou. Nesse momento, uma pessoa de dentro do fluxo teria efetuado disparos com uma arma de fogo, que foram revidados pelos agentes, de acordo com usuários ouvidos pela reportagem. 

A mulher caiu assim que foi atingida e logo foi arrastada por outros usuários para fora do fluxo, ainda segundo relatos de usuários. Uma moradora da região afirma que a mulher ficou estendida na rua Helvétia após ser atingida. 

Segundo a gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB), durante o tumulto, os agentes perceberam que havia uma mulher ferida com um tiro na cabeça, quando foi acionado o resgate do Corpo de Bombeiros e ela foi socorrida à Santa Casa. 

Questionado sobre disparos feitos por GCM contra o fluxo, o subcomandante Ferreira da guarda afirmou que irá acionar a Corregedoria para apurar a informação.

De acordo com investigação, dois tipos de munição foram encontradas em dois locais da cracolândia, calibre .38 e .32. Os agentes da GCM apresentaram revólveres calibre 38. "É algo difícil de elucidar porque o indivíduo que iniciou os disparos se evadiu logo em seguida, se valendo da multidão", disse o delegado. 

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