Secretário prisional do AM elogiou sistema de intervenção rápida a dois dias de massacre

Segundo o tenente-coronel Almeida, intervenção demoraria no máximo 10 minutos dentro de complexo

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Manaus

A dois dias do início da onda violência que deixou 55 mortos nos presídios de Manaus, o secretário de Administração Penitenciária do Amazonas (Seap), disse, em palestra, que havia implantado um sistema de intervenção capaz de agir em até 10 minutos no complexo presidiário onde ocorreu a maior parte dos assassinatos.

"Antes, do acionamento até o batalhão de choque, uma intervenção durava [demorava], em média, 1h. Nesse meio tempo, o que se fazia, no máximo, era uma contenção. Hoje, a gente derrubou, cronometrado, para em torno de 3 minutos e no máximo 10 minutos a intervenção dentro do ramal [estrada]”, disse o tenente-coronel da PM Marcus Vinícius Almeida, durante o 3º Seminário Internacional de Segurança da Amazônia.

Familiares e amigos durante enterro de Cleison Silva do Nascimento, 25, um dos detentos estrangulados em presídio de Manaus
Familiares e amigos durante enterro de Cleison Silva do Nascimento, 25, um dos detentos estrangulados em presídio de Manaus - Bruno Kelly/Reuters


Na palestra para especialistas em segurança pública, ele explicou que o Grupo de Intervenção Penitenciária, formado pela PM e pela Seap, tem como base o Compaj (Complexo Anísio Jobim). Trata-se do local de assassinatos tanto no domingo (26) quanto na segunda-feira, além de ter sido o palco do massacre do Ano-Novo de 2017, com 56 mortos.

Durante as cerca de 2h de duração da mesa sobre o sistema prisional no Brasil, Almeida não mencionou nenhum sinal de crise iminente nos presídios de Manaus. Menos de 48h depois, na manhã do domingo, o Compaj registrou as primeiras 15 mortes, durante o horário de visita. 

Em tom otimista, o secretário disse que o Amazonas passou por vários avanços desde o primeiro massacre no Compaj. “Melhorou bastante o sistema.”

Para justificar, Almeida disse que a taxa de ocupação caiu de 230%, no primeiro massacre, para atuais 137%, mencionou a desativação da unidade do semiaberto, que teria facilitado a entrada de armas há dois anos e citou a introdução de projetos de trabalho para os presos.

O tenente-coronel também negou a influência de facções criminosas no sistema carcerário. “Não existe, no Amazonas, em virtude do trabalho dos últimos anos, a figura do xerife ou de quem manda na cadeia, isso não existe. A gente conseguiu tomar controle da situação”, assegurou.

Nesta terça-feira (28), o governo do Amazonas anunciou a transferência de nove presos para fora do estado, por envolvimento nas mortes dos últimos dias.

Segundo fontes policiais, o motivo das mortes foi uma divisão da Família do Norte (FDN), facção responsável pelas mortes de dois anos atrás, quando praticamente derrotou o rival PCC (Primeiro Comando da Capital) no Amazonas.

Almeida citou alguns números da população carcerária, atualizados até sexta-feira (24): 11.543 presos, dos quais 8.806 (76,2%) em Manaus. Desses, 37% são provisórios.

A maior faixa etária está entre 18 e 24 anos (32%), seguida de 25 a 29 anos (27%). A ampla maioria sequer completou o ensino fundamental: 65%. 

Segundo levantamento do Ministério da Justiça feito em 2014, 87% da população carcerária do Amazonas é negra.

Parte importante da palestra girou em torno da redução de custos. Uma das propostas em estudo apresentadas pelo secretário é a privatização da “muralha”, ou seja, da segurança do entorno do presídio. Segundo o secretário, a medida liberaria cerca de 200 PMs para outras atividades.​

FACÇÕES

Sobre as facções, Almeida diz que o principal desafio no Amazonas é a facção Comando Vermelho. 

“É uma organização muito forte no nosso estado e no Brasil afora. Financeiramente, sem sombra de dúvidas, o CV no Amazonas está muito estruturado”, afirmou.

Sobre o PCC, disse que a facção paulista praticamente desapareceu no estado “Hoje, temos menos de cem.” 

Sobre a FDN, protagonista dos massacres de 2017 e atual, Almeida afirmou que “não é tão organizada” em comparação com as outras duas facções.

Ao comentar as facções, o tenente-coronel elogiou o combate às facções do seu governo: “A quantidade de drogas, apreensões e prisões neste ano foram de tal impacto que reduziram em 25% a taxa de homicídio na cidade. Penso que a gente está no caminho correto. Mas dizer que o estado do Amazonas vai vencer isso sozinho é impossível”. 

A reportagem procurou o secretário via WhatsApp solicitando uma entrevista sobre o teor da palestra da semana passada. Por escrito, ele informou que ligaria de volta, o que não ocorreu até a publicação deste texto.

Erramos: o texto foi alterado

O governo amazonense anunciou a transferência de nove presos para fora do estado, e não do país, como dito anteriormente nesta reportagem. O texto foi corrigido.
 

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