Crime usa de drone a macarrão para enviar drogas e celulares a prisões

Arremesso de objetos por meio de aeronaves não tripuladas preocupa gestão Doria

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São Paulo

Há 17 anos trabalhando como agente nas muralhas das prisões paulistas, João (nome fictício), 38, teve que se acostumar a vigiar o céu. 

Acostumado a mirar sua arma para evitar fugas, resgates de presos e tentativa de contrabandear produtos para a unidade agora também tem de ficar de olho nos drones, a nova onda entre bandidos que buscam enviar drogas e celulares para a prisão. 

O crime também usa pipas, pombos e comida para tentar furar o bloqueio nos presídios. Uma vez dentro da prisão, um celular, por exemplo, pode valer cerca de R$ 20 mil no feirão que acontece dentro dos muros. 

Os altos valores estimulam a corrupção de funcionários, mas a falta de mão de obra para fiscalização também é um trunfo na mão dos criminosos —a Secretaria da Administração Penitenciária tem um déficit de 25% nos seus quadros permanentes. 

Os drones, especificamente, têm preocupado o governo de João Doria (PSDB), que começou a instalar telas nas unidades e busca tecnologia no exterior para coibir a prática. Hoje, nos casos em que os agentes verificam a presença de um drone, o objeto é abatido no ar. 

“Recentemente, o secretário [da Administração Penitenciária] Nivaldo Cesar Restivo esteve em Israel para conhecer as ferramentas lá utilizadas no combate a drones por meio de sistemas de vigilância e detecção em perímetro, incluindo novas tecnologias disponíveis em CFTV”, afirmou a gestão Doria, em nota. 

Os criminosos se aproveitam do déficit de agentes, o que faz com que parte das torres das muralhas possa ficar temporariamente sem alguém a postos, relata o agente João. "Também temos que ficar mais tempo do que o ideal vigiando. A cada hora, o nível de atenção vai caindo", diz.  

Em maio, a Polícia Civil prendeu 21 pessoas suspeitas de integrar uma quadrilha especializada no uso de drones para contrabando nas prisões. Cada entrega custava cerca de R$ 45 mil, com limite de até 1 kg. A operação foi batizada de Voo de Ícaro. 

As máquinas voadoras não inibiram o uso de meios mais tradicionais como pipas e pombos. No ano passado, a polícia do Rio Grande do Sul prendeu um traficante que criou uma arma de ar comprimido para arremessar drogas dentro de uma prisão. 

Outro canal de contrabando são as visitas, que hoje passam por um scanner corporal para entrar nas unidades. O chamado jumbo, pacote com alimentos e produtos de higiene levado pelas famílias, é uma das formas mais comuns. 

Em março, uma visitante do Centro de Detenção Provisória de Guarulhos inseriu dezenas de cigarros de maconha dentro de macarrão tipo penne e tentou entrar. 

Só neste ano houve apreensões de drogas em salsichas, arroz doce e forros de calcinhas e sutiãs. A mulher de um preso foi flagrada com quase mil comprimidos de estimulante sexual dentro de caquis.

Presidente do Sifuspesp (sindicado de agentes), Fábio Ferreira afirma que, após o fim das revistas corporais e o início do uso de scanners, o número de visitas nas prisões aumentou, o que dificulta a fiscalização. "O servidor começa a revistar às 7h e para só às 14h. Ficam só dois guardas para receber a comida. É cansativo. Vai chegar no final, o déficit de atenção vai aumentar", relata. 

Como o uso do scanner também dificulta a entrada de volumes maiores, ficou mais difícil enviar maconha, por exemplo, para as prisões. A mudança coincide com a proliferação de apreensões de uma espécie de maconha sintética, conhecida como k4, que é borrifada em pedaços de papel, muito mais fáceis de serem escondidos.

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