Taxista, servidor público, papai-noel, Frei Damião e matador de aluguel. Essa é uma lista resumida dos mais de 150 papéis que Argemiro Gomes de Andrade Júnior viveu no teatro e no cinema.
Nascido em Fortaleza, Andrade Júnior se mudou para uma Brasília ainda em construção, em 1958, aos 13 anos. De manhã, Argemiro fazia café e corria até os construtores da nova cidade.
Enquanto vendia o produto, oferecia o serviço de escritor de cartas. Assim, os operários analfabetos tinham a chance de manter contato com a família que estava longe. Os que não queriam as cartas, compravam os desenhos de mulheres nuas que o garoto fazia com perfeição.
Anos mais tarde, o cearense prestou vestibular para cursar química na UNB. Ele não terminou o curso, mas fez da universidade sua segunda morada depois que abriu um estúdio de fotografia no campus.
Na universidade, também começou a brincar de ser ator de teatro. A brincadeira ficou séria, Andrade Júnior ficou famoso em Brasília. Mas como o teatro dava muito trabalho, se enveredou pelo cinema. Foi prolífico. Virou tema de mostra de cinema.
Mas foi em casa e com os amigos que Andrade Júnior viveu seu maior e mais intenso papel: foi professor de química dos filhos, cozinheiro de fim de semana, jogador de futebol, campeão de carteado, muambeiro e mecânico da sua Subaru já surrada após mais de 25 anos de estrada.
No último dia 4, Andrade Júnior bebeu uma jarra de suco, comeu dois pratos de feijoada, fumou três maços de cigarro e morreu, vítima de um infarto, aos 74. Ele deixa a esposa Talma, três filhos, netos e o sonho de um país com um mercado cultural forte.
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