Antonio Carlos Marques via na proliferação dos batuques, danças e manifestações populares uma forma de resistência contra o preconceito sofrido pela cultura afro-brasileira.
Como militante da arte em Uberaba e depois à frente da Fundação Cultural da cidade, ele dedicou a vida a estender a mão para para movimentos muitas vezes relegados a segundo plano por gestores culturais.
O professor Antonio Carlos, como era conhecido por todos, começou a carreira dando aulas de educação artística em colégios da cidade. No mesmo período, mergulhava na história das manifestações folclóricas e religiosas brasileiras.
"Ele estudava muito sozinho. Era um apaixonado e grande conhecedor da cultura afro", diz uma das filhas do professor, a professora de dança Thalita Ribela Almeida, 34.
Antonio Carlos costumava explicar, de maneira didática e detalhada, a diferença entre cada uma das manifestações afro que se espalharam pelo Brasil por meio dos negros libertos. "Os negros se manifestavam dentro das senzalas, com seus batuques, seus cânticos, e a partir da pseudo libertação eles saíram da senzala e vieram para a rua para festejar. Cada grupo com seu canto, musicalidade e o seu ritmo", disse, em uma entrevista em 2016.
Aos 37 anos, foi um dos criadores da Fundação Cultural de Uberaba, responsável pela política municipal de cultura, onde trabalharia até o fim da vida. Ali, ajudaria a fomentar danças e manifestações como catira, congada, moçambique. Também atuaria na criação de projetos como o Circo do Povo, que leva arte e educação a jovens da periferia.
A filha diz ter crescido brincando com as irmãs na fundação, enquanto o pai fazia o que gostava na fundação, onde atingiria o cargo de presidente. "Ele deixava de se cuidar para participar das reuniões, para se entregar ao trabalho dele. Hoje a fundação está de pé, ele é que não está".
No dia 15, o professor morreu decorrente de complicações da diabetes e problemas renais aos 65 anos. Deixa mulher e três filhas.
No velório dele, amigos e familiares assistiram apresentações de grupos de congada, folia de reis, artes circenses e capoeira, manifestações que o professor passou a vida incentivando.
coluna.obituario@grupofolha.com.br
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.